Para o professor do Insper, melhorar a qualidade da educação é fundamental para aumentar a mobilidade
Globo
O economista Naercio Menezes Filho, professor do Insper, é cético que num futuro próximo haja uma mudança forte na direção de mais igualdade de oportunidade. Afirma que no Brasil prevalece uma sociedade estratificada, na qual o nascimento marca o futuro das pessoas. Para ele, não haverá mudanças radicais nos próximos 50 anos e a qualidade da educação tem papel fundamental para mudar essa situação. Mas ele diz que houve uma melhora na situação de bem-estar da população nos últimos anos, com os programas de transferência de renda como Bolsa Família e a aposentadoria e o aumento do acesso à educação.
Por que a ascensão social é difícil no Brasil?
É muito difícil mudar essa situação no Brasil. É uma sociedade muito estratificada, todas suas oportunidades na vida vão depender de onde você nasceu. Se nasceu no Leblon (Zona Sul do Rio), com pais ricos, estudando nas melhores escolas, com acesso a bens culturais, mesmo que não faça muito esforço na vida, vai acabar com riqueza alta. Quem estudou em escola pública, muitas vezes sem muita qualidade, vive em zonas com alta criminalidade, é muito difícil ascender.
O que pode aumentar a mobilidade social?
Isso vai depender da qualidade da educação. Mesmo com acesso à transferência de renda, Bolsa Família, ao SUS, a qualidade da educação, do que se aprende na escola, impacta o futuro. O aprendizado dos jovens, não só somente nas escolas publicas, é muito baixo. Consegue terminar o ensino médio, mas não têm as habilidades para o mercado de trabalho, para empreender, lidar com novas tecnologias.
Esses avanços em políticas sociais não reduzem essa desigualdade?
Sim, os pais desses jovens não tinham Bolsa Família, as mães não tinham inserção no mercado de trabalho, não tinha aposentadoria rural. Os pais desses jovens tiveram poucas oportunidades na vida. A partir dos anos de 2000, a grande maioria foi no ensino médio. É uma situação melhor, não há dúvida. Houve alguns ganhos de produtividade com as crianças ficando mais tempo na escola, mas é tímido.
Haver uma mobilidade intergeracional, com uma sociedade mais meritocrática, não vai acontecer no curto prazo. Os mais ricos têm o poder político, influenciam as decisões, os rumos da economia, aos mais pobres resta estudar um pouco mais para ter um emprego mínimo. Não vejo nenhuma mudança radical nos próximos 50 anos.
Link da publicação: https://oglobo.globo.com/economia/noticia/2025/06/01/nao-vejo-nenhuma-mudanca-radical-nos-proximo-50-anos-diz-naercio-menezes-filho-sobre-ascensao-social-no-brasil.ghtml
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