Entrevistas

Reunião sobre IOF mostra que governo e Congresso continuarão a focar em arrecadação, diz Marcos Mendes

“Seguimos com o velho cacoete de buscar arrecadar mais”, afirma pesquisador do Insper, que critica também o que considera ser um “alto grau de improviso” das medidas

Valor

As declarações dadas após o encontro entre representantes do governo e lideranças do Congresso mostram que não há interesse ou capacidade para buscar uma agenda de controle de gastos, e que o modus operandi de buscar novas fontes de receita continuará a ser o foco principal, avalia Marcos Mendes, pesquisador associado do Insper.

“Chama atenção que, até dois ou três dias atrás, a conversa era fazer ajuste estrutural, colocar todos os problemas na mesa. Só que, na prévia de anúncio – não se sabe exatamente o que vai ser votado –, as medidas foram todas concentradas em receita. Então, seguimos com o velho cacoete de buscar arrecadar mais”, afirma Mendes, que critica também o que considera ser um “alto grau de improviso” das medidas.

Mendes nota que o próprio presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), não se comprometeu a aprovar o que foi anunciado após a reunião de domingo (8). E que, dada a natureza da negociação política em Brasília, onde lobbies têm muito poder, dificilmente será possível aprovar medidas como um corte linear de despesas tributárias.

“Conversa para boi dormir”

“Me parece conversa para boi dormir. É algo muito difícil porque cada benefício tem sua legislação específica, pode acontecer uma judicialização enorme. Além disso, o governo não sabe, hoje, qual a situação de cada um, quem está gozando dos benefícios e quanto já foi usufruído.”

O economista também vê mérito no fim da isenção tributária para alguns instrumentos de renda fixa, que cresceram muito nos últimos anos e causaram distorções no mercado, mas avalia que esse debate deveria passar pela redução da tributação para os demais investimentos.

Para Mendes, o Estado brasileiro vive há quase quatro décadas um modelo em que gasta primeiro e depois procura saber como fechar a conta. Em números, a despesa como proporção do PIB era 11% em 1991 e deve fechar este ano em 19,5% do PIB. Ao mesmo tempo, a receita alcançou quase 40% do PIB, contra uma média de 29% na América Latina e 27% entre emergentes.

Medidas “totalmente fictícias”

“O problema é que, enquanto o crescimento da despesa não tem limite, você começa a ter cada vez mais problema para aprovar novas receitas. Desde 2014, o governo não consegue subir carga tributária a ponto de compensar despesa”, alerta. “O maior desafio é quebrar esse modelo, mas não vejo nos atores políticos nenhum indício de disposição para quebrar esse sistema de incentivos.”

A falta de empenho não é um problema só do Executivo, pondera. Ele lembra que o Congresso derrotou a proposta do governo de reoneração da folha salarial, mas as medidas compensatórias aprovadas pelos parlamentares se provaram “totalmente fictícias”.

Link da publicação: https://valor.globo.com/brasil/noticia/2025/06/09/reuniao-sobre-iof-mostra-que-governo-e-congresso-continuarao-a-focar-em-arrecadacao-diz-marcos-mendes.ghtml

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