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Janja, Haddad e o pipoqueiro

Discurso de Haddad sobre carga tributária até faz algum sentido: rico paga pouco imposto; só que no lugar de propor uma reforma do Imposto de Renda completa, vai catando receitas aqui e ali, sem projeto, e Lula segue gastando

Estadão

Cheiro de pipoca no ar, não resisti.

— Quanto custa a menor?

— R$ 5 enquanto Brasília deixar.

— Por que Brasília?

Fui puxando conversa para ver até onde ele iria. Muito educado e bem informado, foi seguindo.

— A senhora não está acompanhando esse assunto do IOF?

— Mas eles não recuaram?

— Sim, e colocaram um tal de C alguma coisa.

— CSLL? Mas não será cobrado de você.

— Minha senhora, tudo que eles colocam de imposto lá em cima, passa para nós. Não tem jeito de escapar.

Lembrei da Janja sobre taxação das blusinhas: “não é o consumidor que paga, são as empresas”. O ministro da Fazenda fez declarações na mesma linha.

Anunciou um pacote de impostos e afirmou que só estava taxando as empresas e corrigindo distorções do sistema financeiro; não afetaria os mais pobres. A desconexão com a realidade continua. Não é à toa que o mau humor com Haddad não passa. Tá faltando pipoqueiro no Planalto.

Seu discurso sobre carga tributária até faz algum sentido: rico paga pouco imposto. Só que no lugar de propor uma reforma do Imposto de Renda completa, vai catando receitas aqui e ali, sem projeto. E Lula segue gastando.

A Petrobras acaba de anunciar investimentos de R$ 5 bilhões para terminar a refinaria de Abreu e Lima. Sim, você leu corretamente, é a mesma do Petrolão.

O ministro alega que recebeu uma herança maldita. Longe de mim defender Paulo Guedes, que de fato chutou o pau da barraca a partir da PEC dos precatórios, mas essa história de “a culpa é sempre dos outros” não cola mais.

Como de hábito, no calendário do PT não existiu Lula 2 e, muito menos, Dilma. Haddad quer cortar gastos tributários, está certíssimo. São centenas de bilhões sem retorno para a população. É novamente um ajuste do lado das receitas.

Parece ter esquecido que os incentivos foram duplicados no Governo Dilma, ultrapassando 4% do PIB. Até o prazo da Zona Franca de Manaus foi estendido e, com o Simples, que se transformou em mais regime tributário regressivo, somam R$ 150 bilhões ou 28% do total.

A PEC da Transição e o arcabouço liberaram Lula para ir fundo no impulso fiscal que ele tanto gosta. Com a queda de sua popularidade, a expectativa é que gaste ainda mais. E sem contrapartida em serviços de qualidade.

O Congresso corretamente exige corte de gastos, mas só sabem aumentar despesas em benefício próprio. Ainda assim, o Executivo tem obrigação de propor medidas mais radicais. Nem que fosse para inglês ver.

Como diria Vampeta: Eles fingem que pagam, eu finjo que jogo.

Link da publicação: https://www.estadao.com.br/economia/elena-landau/pipoqueiro-conectar-governo-realidade/

As opiniões aqui expressas são do autor e não refletem necessariamente as do CDPP, tampouco as dos demais associados.

Sobre o autor

Elena Landau