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Economistas apontam caminhos para uma maior abertura comercial do Brasil

Livro do CDPP analisa vetores de transformação no mundo dos quais o país pode se beneficiar

Valor

O leitor já sabe que o Brasil é um país bastante fechado ao comércio exterior, o que restringe a capacidade de atuação das empresas e as impede de absorver tecnologias, reduzindo sua competitividade. Mas não é trivial entender em que consiste esse fechamento, nem detalhar suas consequências, e muito menos oferecer alternativas de maneira estruturada e detalhada.

Esse é o propósito dos oito autores de “Integração comercial internacional do Brasil”, volume ambicioso publicado pelo Centro de Debates de Políticas Públicas (CDPP) e dirigido pelo economista Daniel Gleizer. Ao longo de 382 páginas, além de diagnosticar e descrever os mecanismos tarifários e não tarifários do fechamento brasileiro, o livro propõe uma trilha que, ao fim de quatro anos, levaria a média das tarifas brasileiras, hoje em 11,7%, a cerca de 6%, o que está alinhado a países como México e Colômbia.

Os oito autores reunidos se baseiam em três objetivos: “reduzir a escalada tarifária que caracteriza a estrutura de proteção contra importações”; “reduzir o custo das importações de produtos intermediários e bens de capital” e “simplificar a estrutura tarifária, diminuindo o número de níveis de alíquotas para o imposto de importação”. Um ponto a ressaltar é a análise das barreiras não tarifárias, cujos detalhes e meandros estão além da capacidade de resumo de uma resenha.

Evidentemente, o “timing” da publicação é um aspecto sensível, já que o mundo passa por um momento de retraimento da globalização. Fala-se em “desglobalização” desde o início da última década, e o período após a pandemia de covid-19 testemunhou não apenas um fortalecimento das políticas de nacionalização industrial, como também o retorno de subsídios nos países desenvolvidos. Com a volta de Donald Trump e sua retórica de tarifas, o tema se torna ainda mais delicado, a tal ponto que, na semana passada, a tempestade atingiu o Brasil em cheio, com a ameaça de tarifas de 50% contra o país.

Por esse ângulo, o livro exerce um certo papel de manifesto. “A despeito da perda de ímpeto na globalização, há vetores de transformação na economia mundial que oferecem oportunidades para o Brasil”, afirmam os autores, em resposta coletiva às perguntas do Valor. Os dois principais vetores estudados no livro são a digitalização — examinada extensamente no capítulo de José Augusto Coelho Fernandes e Renato da Fonseca, que trata do mercado de tecnologias da informação e da comunicação no Brasil — e a descarbonização.

Este segundo ponto também está na berlinda. Trump puxou o freio de mão das políticas ambientais americanas e outros países têm mandado mensagem semelhante: na Alemanha, o chanceler Friedrich Merz explicitou que a política ambiental ficou em segundo plano, dada a necessidade de investir em armamentos. Ainda assim, “essas pressões tendem a ser conjunturais e não são compartilhadas por todos os países”, segundo os autores. “A agenda de redução de emissões de carbono vai permanecer, embora possa evoluir mais lentamente.”

Conceitos como “powershoring” (aproximar a produção das fontes de energia limpa) e “greenshoring” (procurar locais com economia mais verde) estão no coração da aposta. A argumentação está distribuída em centenas de páginas, mas um resumo dos próprios autores, na resposta ao Valor, ajuda a entender por que a oportunidade existe:

“Temos ativos que permanecem relevantes. Matriz elétrica limpa, energia renovável, uma variada matriz industrial, com algumas grandes empresas inovadoras e excelência em algumas universidades e centros de pesquisa estão entre esses ativos”, afirmam.

Vale ainda menção ao último capítulo, redigido por Ricardo Dix-Carneiro, da Universidade Duke. Nele, são examinados os impactos de políticas de liberalização nos diferentes setores da economia, a partir dos dados disponíveis sobre o que ocorreu no início da década de 1990 no Brasil, quando o país realizou o maior esforço de abertura comercial desde a Primeira República. Os efeitos são desiguais e podem ser duradouros, afetando a percepção da população sobre o comércio internacional, a ponto de bloquear novos passos de abertura.

A iniciativa daquele período sofreu críticas por não conter medidas de adaptação para empresas e trabalhadores afetados pelo choque súbito de competição. Portanto, dizem os autores, “a implementação [da proposta] deve ser cuidadosamente planejada, levando em consideração as repercussões sociais e econômicas que tais mudanças acarretam, especialmente em termos de proteção social para os trabalhadores afetados”.

Os mais afetados são os setores mais intensivos em trabalho, “que, em geral, estão entre os mais protegidos”, explicam. Entre eles, estão confecções, calçados e móveis. “O maior desafio é que a produção nesses setores é muitas vezes concentrada em alguns municípios e regiões”, argumentam. Por isso, as políticas de mitigação envolvem a recolocação de trabalhadores e a garantia de renda mínima para os deslocados, apoio à migração para áreas com mais oportunidades e capacitação de recursos humanos para atuar nos setores ganhadores.

Tudo somado, os autores advertem que “a abertura comercial não removerá todos os entraves à retomada do crescimento econômico sustentado”. Todavia, “sem um movimento nessa direção, o Brasil será incapaz de experimentar um novo período de crescimento da produtividade, particularmente na indústria e nos serviços”.

Link da publicação: https://valor.globo.com/eu-e/noticia/2025/07/15/economistas-apontam-caminhos-para-uma-maior-abertura-comercial-do-brasil.ghtml

As opiniões aqui expressas são do autor e não refletem necessariamente as do CDPP, tampouco as dos demais associados.

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