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O custo do isolamento: o que era ruim deve piorar

Cristiano Romero

Vero Notícias

A economia brasileira está num beco sem saída. Preso há décadas na “armadilha do baixo crescimento”, nosso Produto Interno Bruto (PIB), depois de avançar a um ritmo frenético entre 1950 e 1980, período em que registrou as maiores taxas de expansão do planeta, vem tendo desempenho medíocre há mais de quarenta anos.

Os números são contundentes. Entre 1950 e 1980, a economia brasileira cresceu a uma taxa média anual de 7,29%. O período reflete o auge do modelo de desenvolvimento brasileiro, marcado por alta industrialização, grandes projetos de infraestrutura e um forte papel do Estado. Foi uma era de rápido crescimento e transformação.

De 1981 a 2020, a taxa média de expansão caiu para 2,15%. E não há sinais de alento no horizonte. Este período engloba a crise da dívida dos anos 80, as tentativas de estabilização da moeda nos anos 90 e as flutuações das últimas duas décadas, com momentos de euforia e recessão. A média muito inferior à registrada entre 1950 e 1980 demonstra o desafio do Brasil em retomar um ritmo de crescimento robusto e sustentável após o esgotamento do modelo anterior.

De 2020 a 2024, a média anual foi de 2,2%. Portanto, não há novidade nas perspectivas de crescimento. Na verdade, o ambiente interno e externo contribui para um quadro desolador adiante.

O Brasil, a rigor, se enquadra em duas armadilhas: a do baixo crescimento e a das economias que, depois de avançarem da renda baixa para a renda média, pararam de crescer por variadas razões.

É preciso entender que as razões do fracasso das últimas quatro décadas e meia estão aqui mesmo, dentro do país. O modelo de crescimento com a economia fechada com torniquete, liderado pelo Estado e amparado por vasto endividamento interno e externo, foi à breca em 1982.

Desde então, o que vemos é uma enorme dificuldade desta sociedade em sepultar o modelo de substituição de importações, que não funciona mais, por um modelo de integração com o comércio e a economia internacionais.

O pilar dessa estagnação brasileira tem um nome: baixa produtividade. E qual é o grande entrave para que a produtividade decole? Nosso teimoso isolamento comercial.

Essa é a tese central de um estudo contundente, “Integração Comercial Internacional do Brasil”, coordenado por Daniel Gleizer, com a colaboração de economistas como Fernando Veloso, José Augusto Coelho Fernandes, Leane Cornet Naidin, Pedro da Motta Veiga, Rafael Dix-Carneiro e Renato da Fonseca, além de Sandra Polónia Rios.

O Brasil se destaca globalmente, mas não da forma que gostaríamos. Somos um “ponto fora da curva” na persistência de um viés protecionista que nos mantém com uma economia demasiadamente fechada.

Em 2022, éramos a 11ª maior economia do planeta, mas amargávamos a 25ª posição no ranking dos maiores importadores e a 23ª entre os exportadores. Mais alarmante: somos o único país da amostra analisada a registrar uma trajetória negativa no ranking dos maiores importadores mundiais de bens e serviços.

A cegueira ideológica ou a mera inércia por parte de nossos formuladores de políticas se manifesta em nossos instrumentos de proteção. Nossas tarifas de importação são um capítulo à parte. Em 2021, o Brasil ostentava a 13ª maior tarifa média globalmente, subindo para a quinta posição quando o recorte são produtos industrializados. A tarifa média sobre manufaturados, que em 2023 era de 11,7% no Brasil, é um fardo pesado quando comparada aos 5,3% da China, 13,9% da Índia ou 6,0% do México.

Não bastasse a barreira tarifária, o Brasil abusa das Medidas Não Tarifárias (MNTs). Aplicamos MNTs sobre mais de 86% do valor de nossas importações, contra uma média de 72% para outros 75 países em 2022. No índice de frequência, a diferença é ainda mais gritante: 76% para o Brasil contra 43% de média global.

O ativismo brasileiro em medidas antidumping também merece destaque.

A crença de que o protecionismo “protege” a nação é, no fim das contas, um tiro no pé. As tarifas e barreiras não são pagas por quem vende lá fora, mas sim pelos consumidores e empresas brasileiras. Ao encarecer produtos importados, elas reduzem o poder de compra da população, limitam o acesso a tecnologias de ponta e aumentam os custos de insumos para nossas próprias indústrias, comprometendo sua competitividade.

A política industrial do governo Lula 3, batizada de Nova Indústria Brasil (NIB), com sua bandeira de “reindustrialização”, é um déjà vu.

A persistência do Brasil nesse modelo protecionista não é fruto da ignorância, mas de uma complexa “economia política”. O peso de setores industriais que competem com importações e uma forte tradição protecionista, enraizada em parte da burocracia, das associações empresariais e sindicais, formam um poderoso lobby que resiste a qualquer tentativa de abertura.

Apesar do cenário desafiador, o estudo coordenado por Daniel Gleizer não se limita ao diagnóstico. Os autores defendem que a abertura comercial é uma reforma prioritária e um caminho inadiável para o desenvolvimento socioeconômico do Brasil.

As propostas de reforma são claras:

  • Rever o modelo do Mercosul, transformando-o em uma área de livre comércio.
  • Realizar uma reforma tarifária abrangente, visando uma média de 5,9% nas tarifas em quatro anos.
  • Reduzir a carga tributária sobre a importação de serviços.
  • Simplificar as Medidas Não Tarifárias (MNTs).
  • Liberalizar o comércio de serviços.
  • Priorizar a ratificação dos acordos já negociados (MercosulUE e EFTA) e buscar novos acordos com parceiros relevantes como Coreia do Sul e Canadá.

A conclusão do acordo MercosulUE, mesmo em meio às ameaças protecionistas do governo Trump 2 (que impõe novas incertezas), é um “marco da maior relevância”.

É uma lição do passado que nos assombra: a sobretaxação de importações foi uma das principais causas da Grande Depressão de 1929. Ignorar a realidade e persistir em políticas que nos isolam é um luxo que o Brasil não pode mais se dar. A prosperidade e a justiça social de nossa nação dependem, em grande parte, de nossa coragem para abrir as portas ao mundo.

Link da publicação: https://veronoticias.com/artigo/o-custo-do-isolamento-o-que-era-ruim-deve-piorar/

As opiniões aqui expressas são do autor e não refletem necessariamente as do CDPP, tampouco as dos demais associados.

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