Para o economista, seria positivo reduzir tarifas de importação e outros mecanismos de proteção
Folha
O economista brasileiro Arminio Fraga diz que negociar uma abertura comercial do país é uma saída na negociação com os Estados Unidos após o tarifaço de Donald Trump. “Não negociar é prejuízo para nós. Defendi a abertura unilateral e continuo a defender”, diz ao C-Level o ex-presidente do Banco Central.
Segundo ele, fazer abertura unilateral significa reduzir não só tarifas de importação, mas também outros mecanismos de proteção. “São muitos. O Brasil deveria negociar. O Brasil tem ainda um ranço protecionista enorme, que não são apenas as tarifas”, disse Fraga, sócio da Gávea Investimentos.
Na sua avaliação, uma maior abertura comercial pode fazer sentido num momento em que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, trava uma guerra comercial contra o Brasil.
Ele avaliou que o que está acontecendo na relação com os Estados Unidos é desconcertante, e o que se vê é claramente uma invasão. “Uma mudança radical na relação, que já não vinha bem, porque o governo brasileiro também nunca se preocupou em esconder que torceu contra o Trump nas eleições e não fez nenhum esforço para se aproximar até a bomba que o Trump soltou”, afirmou.
“Não foi uma bomba só econômica. Tudo isso pinta um quadro bem complexo e novo. Desconheço algum momento onde houve algo assim tão forte e estranho.”
O ex-presidente do BC destacou que, como Trump tem um estilo fora do padrão normal da diplomacia, não tem sido fácil prever os caminhos a serem seguidos. Na sua avaliação, a lista de exceções ao tarifaço traz alívio.
“Mas esse caminho que o governo americano tomou é de meio que sair do modelo mais tradicional de negociar e se posicionar. É algo que não está ainda totalmente mapeado. Eu acho que o Brasil até agora faz bem em deixar passar um pouco de tempo e tentar abrir os canais”, disse.
“Tem sido a reação da maioria dos países. As negociações estão começando a acontecer, os anúncios na Europa e com a própria China que tem mais condições de reagir.”
Fraga disse que que não leva muita fé nos Brics, porque os interesses dos países membros do grupo são muito divergentes. Por isso, disse ele, a ideia de criação de uma moeda comum no Brics não faz o menor sentido.
Fraga fez uma ponte para o primeiro encontro entre o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Scott Bessent, e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
Durante a década de 90, Fraga e Bessent trabalharam juntos no fundo de investimentos do investidor George Soros. Ele ponderou que o secretário dos Estados Unidos tem um histórico de conhecer bem o funcionamento de mercados e da economia, o que pode ajudar nas negociações.
Fraga considera que o tema das terras raras deveria entrar nas discussões, sobretudo no âmbito da grande batalha contra as mudanças climáticas que “a gente está perdendo”.
“Isso é muito mais importante do que tentar furar petróleo lá no Amazonas”, ressaltou, numa referência à região de exploração de petróleo na Foz do Amazonas. O tema é controverso e envolve interesses econômicos, sociais e ambientais. A região, que integra a Margem Equatorial brasileira, é considerada promissora para a produção de petróleo, mas sua proximidade com a floresta amazônica e o ecossistema marinho sensível geram preocupações ambientais.
Ele contou que há alguns meses recebeu uma ligação do secretário de Reformas Econômicas. Ele disse que não tinha mais muito contato, mas escreveu para o colega. “Eu escrevi para ele e falei, assim, ó, aqui tem um canal que pode ser útil. Mesmo quando países não se entendem e estão vivendo momentos difíceis, sobretudo nessas horas é bom ter algum canal”, relatou.
Link da publicação: https://www1.folha.uol.com.br/blogs/c-level-plano-brasilia/2025/07/arminio-fraga-diz-que-ampliar-abertura-comercial-e-um-caminho-na-negociacao-com-eua.shtml
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