À CNN, ex-ministro da Fazenda defendeu abertura de mercados e ressaltou que problema dos EUA com Brasil “não é com a parte econômica”
CNN Brasil
O tarifaço dos Estados Unidos contra o Brasil fez algumas empresas se verem frente a uma “hecatombe”, observou à CNN o ex-ministro da Fazenda e ex-presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, nesta quarta-feira (13).
Apesar de Donald Trump escolher a mais alta das alíquotas para aplicar contra o país, o economista apontou que o Brasil seria “menos atingido que outros países”, considerando que exportamos pouco e o fato de a indústria brasileira ser mais voltada ao consumo interno.
Contudo, reconheceu que alguns setores pontuais que dependem do comércio com os EUA seriam amplamente afetados.
“O que seria criticamente afetado é o setor aeronáutico. Mas, à medida que foram excluídos… As companhias aéreas americanas dependem do Brasil. Seria um desastre para as companhias aéreas americanas”, pontuou Meirelles.
Uma lista de exceções à tarifa de 50% poupou quase metade da pauta exportadora brasileira aos norte-americanos, inclusive aeronaves e suas peças.
Para estes exportadores, Meirelles avaliou que é necessário buscar outros parceiros, uma vez que depender dos Estados Unidos se tornou um risco.
Quanto às oportunidades para o país, o ex-ministro da Fazenda vê potenciais mercados para o Brasil diversificar suas exportações na China e nos países do Sul Global, sobretudo os da América Latina.
Em paralelo à conversa com Meirelles, o governo federal anunciava o plano de socorro às empresas afetadas pelo tarifaço. Compras governamentais, a liberação de R$ 30 bilhões em crédito e a expansão do Reintegra para todas as empresas que exportam aos EUA foram as principais medidas escolhidas para o arsenal do governo.
O economista apontou o valor como suficiente, a depender da eficácia de como for aplicado, e defendeu a ampliação do programa de exportação como um caminho acertado. Ainda assim, ressaltou que o país deve insistir na abertura de sua economia.
“Ao contrário do que pensa Donald Trump, as tarifas acabam mais prejudicando do que beneficiando. O problema é que o nosso setor industrial é muito tributado. Temos que abrir mais a economia. Trabalhar mais com tecnologia e se integrar mais às cadeias mundiais”, afirmou Meirelles.
“O Brasil é um pouco fechado, expandindo e abrindo para um nível maior de mercado, aumenta a produção, aumenta emprego.”
Sobre as tratativas com os EUA, o ex-ministro da Fazenda reconheceu a dificuldade de se avançar com as negociações, tendo em vista que “o problema deles não é com a parte econômica”.
Nesta quarta, também era prevista uma reunião entre o atual chefe da equipe econômica, Fernando Haddad, e seu par norte-americano Scott Bessent. No início da semana, porém, o ministro da Fazenda revelou que a conversa havia sido cancelada pelas autoridades dos EUA.
“Por que eles cancelaram? O problema deles não é com medidas que o Fernando Haddad vai levar para eles. O grande problema é relacionado ao Supremo Tribunal Federal. É uma coisa que o governo não pode entrar, e o Supremo Tribunal Federal corretamente é independente e tem que continuar independente, isso é a essência da nossa nação”, concluiu Meirelles.
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