Folha
O que mantém os países amarrados ao baixo desenvolvimento econômico? O que temos de fazer para acelerar o crescimento?
A tradição do pensamento econômico é olhar a superação do subdesenvolvimento a partir de políticas que acelerem a taxa de crescimento. É quase que uma trivialidade: se crescer é o objetivo, é necessário elevar a taxa de crescimento!
Recente artigo, “Crescimento, contração e desempenho econômico de longo prazo: perspectivas históricas sobre o desenvolvimento econômico”, publicado na melhor revista de história econômica, o Journal of Economic History, inverte o ponto de vista do problema.
Considera uma base de dados com 142 países de 1950 a 2011. Classifica os países em cinco faixas de produto per capita em 2000 (medido a dólares constantes de 2005). Em milhares de dólares, as faixas são: até 2; de 2 até 5; de 5 até 10; de 10 até 20; e acima de 20.
Para cada faixa, observam-se as seguintes estatísticas para a média dos países da respectiva faixa: o número de anos em que a economia cresceu; o número de anos em que a econômica se contraiu; a taxa de crescimento nos anos de crescimento; e a taxa de crescimento nos anos de contração.
O fato estilizado é que a diferença entre os países com renda acima de US$ 20 mil em relação aos demais grupos é que os episódios de contração econômica são menos graves. Em anos de contração econômica, os países ricos recuam 2,3%. Para todas as demais categorias, a perda é maior do que 4%.
Adicionalmente, a frequência de anos ruins é de 16% para os países ricos. Para as demais categorias, a proporção de anos ruins se eleva, conforme reduzimos a renda da categoria: 20%, 23%, 27% e 37%.
De 1950 a 2011, o crescimento médio por ano foi de 2,8% nos países ricos e de 0,8% nos países pobres. Uma diferença de 2 pontos percentuais. A diferença de desempenho nos anos bons explica 0,7 ponto percentual. Nos anos ruins, explica 1,3 ponto percentual.
O estudo apresenta uma caracterização da armadilha da renda média. O grupo do Brasil —países com renda em 2000 entre US$ 5.000 e US$ 10 mil— cresceu, de 1950 a 2011, no mesmo ritmo dos países ricos. Não conseguiu tirar nenhuma diferença. Os anos bons, no entanto, contribuíram para que o crescimento anual dos países de renda média tenha sido 0,7 ponto percentual superior ao dos países ricos. Todo o esforço nos anos bons foi perdido nos anos de contração econômica.
Os autores investigam a aceleração de 0,28 ponto percentual na Revolução Industrial na Inglaterra. O crescimento médio na primeira metade do século 18 foi de 0,15% ao ano e de 0,43% para a segunda metade (0,43-0,15=0,28). Os anos bons foram menos importantes na segunda metade do século 18: retiraram 0,14 ponto percentual do crescimento em comparação com a primeira; os anos ruins adicionaram 0,42 (0,42-0,14=0,28). Adicionalmente, documentam que essas contrações menores e menos intensas não são consequência da menor participação da agricultura na economia.
Terminam o artigo construindo uma base de instabilidade política. Instabilidade política é medida pelo número de vezes, em um dado período, em que há uma transição de governo irregular, isto é, contrária às regras do jogo. Há clara relação entre maior estabilidade política e menor frequência de contração econômica e contrações menos intensas.
Link da publicação: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/samuelpessoa/2025/08/descricao-de-armadilha-de-renda-media.shtml
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