Folha
Na semana passada, o IBGE divulgou a inflação de setembro (IPCA). O índice foi de 0,48%, em comparação com agosto, abaixo do 0,52% esperado pelo mercado. A composição foi muito positiva. Em particular, a inflação de serviços veio abaixo do que se esperava.
Com as surpresas positivas que temos tido, a inflação deve fechar o ano em 4,6%, quase no teto da banda do regime de metas de inflação. No início do ano eu pensava que a inflação fecharia 2024 em 6%. Em meados de junho, revisei para 5,3%. O cenário para 2026 também tem melhorado. Com as informações de hoje, a inflação deverá fechar 2026 em 4,2%.
Como escrevi na coluna de 21 de junho, três fatores explicam a melhora do cenário inflacionário: a desvalorização do dólar ante todas as moedas, inclusive o real; a ótima safra de 2025, tanto de verão quanto a de inverno; e uma inflação de serviços menor do que se imaginaria em razão da baixíssima taxa de desemprego.
Para termos uma ideia, no início do ano considerava uma inflação de alimentos na casa de 9% em 2025. Provavelmente fechará o ano em 4%.
Na coluna da semana passada, elaborei os motivos que permitem que a economia brasileira opere com desemprego menor, sem grandes pressões inflacionárias. No entanto, como enfatizei na coluna, há claros sinais de que há excesso de demanda por trabalho. Os salários crescem mais do que a produtividade, e a inflação de serviços, apesar da moderação nos últimos meses, continua em níveis muito elevados.
Em particular, a inflação dos serviços intensivos em trabalho tem se elevado desde outubro de 2023, quando marcou 5% em 12 meses. Em setembro último, fechou a 6,3% em 12 meses.
De qualquer forma, o regime de metas de inflação emprega como índice de preços o IPCA pleno. É perfeitamente possível termos inflação na meta e serviços intensivos em trabalho acima da meta.
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Na semana passada, a Câmara aprovou a alteração da tabela do Imposto de Renda. Para que a medida seja neutra do ponto de vista fiscal, isto é, para que o déficit público não se eleve, foi aprovada uma tributação para as rendas mais elevadas.
Alterar a tabela do IRPF é uma medida de natureza política. Ambos os candidatos em 2022 se comprometeram com ela. A tributação das rendas mais elevadas atende ao critério de elevar a progressividade dos impostos de renda. Trata-se de uma medida de justiça tributária.
Corretíssima a análise de meu colega Bernardo Guimarães, que ocupa este espaço às terças-feiras. Vale acrescentar um ponto.
Apesar de ser fiscalmente neutra, a medida não será neutra do ponto de vista da demanda agregada. O objetivo de mudar a tabela do IRPF é aumentar a renda das pessoas afetadas pela medida. É elevar o bem-estar das pessoas. Absolutamente meritório.
Como as pessoas dessa faixa de renda consomem uma parcela da sua renda maior do que as pessoas que serão tributadas, o efeito líquido da medida será elevar a demanda agregada. Com a economia a plena carga, maiores níveis de demanda redundam em maiores níveis de inflação e, consequentemente, maiores taxas de juros.
Para que a medida fosse neutra do ponto de vista da demanda, a compensação teria que ser maior, a fim de que houvesse elevação do superávit primário do setor público. Isto é, a poupança pública teria que se elevar para compensar a queda da poupança privada promovida pela medida.
Link da publicação: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/samuelpessoa/2025/10/surpresa-positiva-na-inflacao-e-a-tabela-do-ir.shtml
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