Folha
A “química” entre Lula e Donald Trump vem de ambos serem populistas focados em distribuir benefícios a seus eleitores e aos grupos de pressão que os cortejam. Buscam resultados visíveis no curto prazo, pouco se importando com os custos de longo prazo.
Ambos defendem barreiras comerciais a título de proteger empregos. Não se importam com os empregos que as tarifas destroem, de forma pouco visível, ao limitarem o comércio e restringirem o acesso das empresas a insumos e tecnologias melhores e mais baratas.
A frase de Lula de que “não pintou uma química, pintou uma indústria petroquímica” é mais que uma tirada espirituosa. Ela reflete a comunhão de ideias sobre proteção a indústrias escolhidas pelo governo: a petroquímica é antiga freguesa do Tesouro, a exemplo do benefício aprovado nesta semana pela Câmara, de R$ 5 bilhões por ano.
Lula e Trump também compartilham o desprezo pelo equilíbrio fiscal. Querem gastar mais hoje e deixar a conta para os próximos.
Fustigam as instituições de Estado —como o Banco Central e órgãos de controle ambiental— que limitam o exercício da vontade do governante de plantão, em nome da estabilidade de longo prazo.
Admiram ditadores que têm poderes que lhes são negados pelas instituições democráticas.
Proponho ao leitor apontar se é de Lula ou de Trump cada uma das frases citadas abaixo, que têm pequenas adaptações para retirar referências que facilitariam a identificação.
Comecemos com: (1) “trazer de volta os empregos para a América e promover a reindustrialização são motivações legítimas”; (2) “mais produção no país significa mais competitividade e menores preços aos consumidores”; (3) “será que (…) um país que tem uma base intelectual respeitada no mundo, (…) [tem] de ficar esperando que a inteligência artificial venha da China?”; (4) “os fabricantes de automóveis atuando no país têm que produzir os veículos e todas as autopeças dentro do país”; (5) “nós vamos tentar brigar para que o comércio mundial seja equilibrado e recuperar a indústria automobilística”; (6) “as empresas do país precisam estar de acordo com o pensamento de desenvolvimento do governo”.
Agora vejamos frases sobre Vladmir Putin: (7) “As pessoas estão estimulando o ódio contra o Putin. Isso não vai resolver!”; (8) “Se Putin for ao nosso país, não há porque ele ser preso”; (9) “É sempre uma grande honra ser tão gentilmente elogiado por um homem tão respeitado em seu país e além”.
No desprezo às instituições de Estado, temos: (10) “A única coisa errada com a nossa economia é o Banco Central”; (11) “A única coisa que não está controlada é a taxa de juros“; (12) “O Banco Central parece que é contra o governo”; (13) “O Banco Central ficou louco”; (14) “Eu quero que seja explorado o petróleo (…) a agência de regulação ambiental é um órgão do governo parecendo que é contra o governo”; (15) “O que a agência de regulação ambiental faz é uma desgraça (…). Estão tornando tudo impossível”.
Agora sobre equilíbrio fiscal: (16) “Fico irritado com a discussão sobre o chamado déficit fiscal… esse não é o problema. Você tem que saber se está gastando ou investindo”; (17) “Você nunca precisa dar calote porque você imprime o dinheiro… então nunca há calote”; (18) “Você não é obrigado a estabelecer uma meta de superávit e cumpri-la se você tiver coisas mais importantes para fazer”; (19) “Eu tomaria empréstimos, sabendo que, se a economia quebrasse, você poderia fazer um acordo”
São de Lula as frases 1, 3, 5, 6, 7, 8, 11, 12,14,16 e 18. E de Trump: 2, 4, 9, 10, 13, 15, 17 e 19.
Link da publicação: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/marcos-mendes/2025/10/a-quimica-e-a-petroquimica-entre-lula-e-trump.shtml
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