Entrevistas

Marcos Mendes: Alta do PIB foi bombada por estímulos insustentáveis

UOL

O crescimento do PIB em 2024, em 3,4%, se apoiou em estímulos fiscais que não se sustentam, afirma Marcos Mendes, pesquisador associado do Insper, no Mercado Aberto, do Canal UOL.

Para Mendes, a alta nos gastos do governo Lula, sobretudo com programas sociais, elevou o déficit primário e a dívida, tornando mais difícil equilibrar as contas públicas e forçando o Banco Central a manter juros altos.

“Vimos um crescimento no ano passado de 3,4%, caindo para dois e pouco. Esse é um crescimento que está sendo basicamente bombado por estímulos fiscais. O governo está fazendo um déficit elevado e além do déficit que aparece nas contas, ele está liberando um volume grande de recursos, mas de uma forma insustentável, porque isso gera um crescimento da dívida pelo déficit primário e obriga o Banco Central a jogar os juros para cima para segurar a inflação.”

“A postura fiscal do Ministro da Fazenda [Fernando Haddad] foi sempre de buscar mais receitas para tentar fechar essa conta. Isso é um modelo que não funciona, porque a carga tributária no Brasil já está muito alta e tem limite para aumento de receita. E para aumento de despesa não tem limite, porque aí é o desejo eleitoral de todo mundo. Então, o ministro da Fazenda, ele está realmente numa posição difícil, porque é um ministro da Fazenda que tem um pé na canoa da gestão da economia e outro pé na canoa eleitoral, olhando perspectiva de se eleger alguma coisa lá no futuro. Isso realmente é muito difícil, porque tem uma contradição entre essas duas coisas.” 

O pesquisador avalia que tanto o antigo teto de gastos quanto o novo arcabouço fiscal fracassaram por falta de compromisso social e por brechas criadas para burlar as regras. Mendes defende reformas estruturais profundas para que o setor público se ajuste à capacidade de arrecadação.

“Os dois fracassaram, porque em vez de um acordo social em que todos os grupos, os lobbies se conformaram e se acertaram para gerar reformas, o que teve foi uma iniciativa pulverizada de diversos setores da sociedade para furar o teto e tentar puxar a sardinha para sua brasa.

Ele alerta que, sem mudanças nas políticas inconsistentes, novas regras fiscais serão rapidamente dribladas e o país continuará com dificuldades para fechar as contas sem receitas extraordinárias ou antecipações, o que Mendes chama de “receita predatória”.

“O que foi prometido na origem do arcabouço fiscal está muito longe do que está sendo atingido. Então, cumprir a meta no centro ou no limite inferior é o menor dos problemas no modelo que já se mostrou ineficaz.”

Link da publicação: https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2025/11/14/crescimento-foi-bombado-por-estimulos-fiscais-insustentaveis-diz-marcos-mendes.htm

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