Globo
Acordo Mercosul-UE e redução do tarifaço de Trump são cruciais para sanar deficiência crônica do Brasil
Nos últimos cinco anos, a renda per capita cresceu 1,7% ao ano no Brasil. O principal motor do avanço foi a queda no desemprego. Em outubro, ele caiu a 5,4%, nível mais baixo da série histórica iniciada em 2012. Mas é impossível o desemprego seguir caindo de forma indefinida sem gerar pressão inflacionária. A situação atual da economia expõe, ao mesmo tempo, o limite das políticas de estímulo ao consumo e a dificuldade crônica do Brasil de enfrentar sua maior deficiência— a improdutividade.
A competição no Brasil é baixa, e isso é um problema. O tamanho médio das empresas é muito menor que no Chile ou na China. Companhias antigas não são maiores que as iniciantes, e sua produtividade não cresce. Tudo isso decorre de uma economia que permite a sobrevivência dos incompetentes, por isso roda abaixo da capacidade. “Empresas mais produtivas não crescem, e as empresas de baixa produtividade permanecem no mercado”, diz Fernando Veloso, diretor de pesquisa do Instituto Mobilidade e Desenvolvimento Social (IMDS). Não é surpresa que a produtividade por hora trabalhada avance a passos de tartaruga. De 1981 a 2024, cresceu ridículo 0,5% ao ano. Nos últimos cinco anos, a situação piorou: o crescimento caiu a 0,3%, segundo o Observatório da Produtividade Regis Bonelli. A melhora se deve basicamente ao agronegócio. No setor industrial, o valor gerado por hora trabalhada caiu 23% em 30 anos. Além do atraso de uma indústria protegida por subsídios e barreiras comerciais, a informalidade — que emprega quatro em dez brasileiros — favorece produtividade baixa.
Uma economia improdutiva não tem como produzir riqueza na proporção necessária para combater miséria e desigualdade. Os remédios são conhecidos, mas custosos. O mais óbvio é pôr mais gente para trabalhar. Infelizmente, o Brasil já não pode mais contar com o bônus demográfico, período em que a população em idade produtiva supera crianças e idosos. À medida que o país envelhece, é preciso achar alternativas. A educação é a resposta mais duradoura. Se ainda somos um país onde proliferam ocupações que não geram riqueza, como flanelinhas, porteiros de prédio, cobradores de ônibus ou até ascensoristas, é porque não temos uma população bem formada, preparada para trabalho produtivo. É verdade que tem havido melhora, mas esse é um desafio que só pode ser superado no longo prazo — e não temos tempo para esperar.
Outra saída, defendida por Veloso e outros autores no estudo “Integração comercial internacional do Brasil”, é a abertura econômica. O fim de barreiras comerciais resultaria em benefícios imediatos: ampliaria o acesso a máquinas e insumos importados, aumentaria a competição e inibiria a informalidade. Nos setores expostos, empresas informais pouco produtivas cederiam lugar àquelas com chance de conquistar novos clientes no exterior.
Por isso são tão relevantes as negociações entre Brasil e Estados Unidos para reduzir o tarifaço de Donald Trump. A abertura do mercado brasileiro a produtos americanos pode destravar as negociações e, ao mesmo tempo, aumentar a competição por aqui. Outra contribuição poderá vir da aprovação do acordo Mercosul-União Europeia, prevista para este mês. É alvissareiro que uma gestão do PT — em geral afeito a dogmas protecionistas — pareça enfim ter descoberto as vantagens do livre-comércio, crucial para combater a pobreza e a desigualdade.
Link da publicação: https://oglobo.globo.com/opiniao/editorial/coluna/2025/12/abertura-comercial-tera-efeito-imediato-na-produtividade.ghtml
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