Bloomberg
Um membro importante de um dos grupos de empresários e executivos dos mais proeminentes do Brasil mantém a esperança de que surja um candidato de centro na eleição presidencial do próximo ano, criticando tanto a esquerda quanto a direita por não enfrentarem os desafios econômicos e sociais do país.
Fabio Barbosa, presidente do conselho da Natura, integra um grupo que se alinhou a Simone Tebet, que terminou em terceiro lugar na campanha de 2022. Ele está conectando políticos com visões semelhantes a líderes empresariais, executivos e profissionais liberais para tentar construir um novo caminho para o país.
Os esforços de Barbosa surgem em um momento em que a política brasileira está polarizada entre o atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que busca seu quarto mandato, e a entrada de Flávio Bolsonaro — filho do ex-presidente Jair Bolsonaro, atualmente preso — na disputa para se tornar o próximo líder do país.
Barbosa afirma que líderes de ambos os lados estão falhando com o povo brasileiro.
“Hoje existe uma falta de confiança nas instituições que tem se agravado nos últimos anos, nos últimos meses, nas últimas semanas. E uma crescente falta de atitudes que demonstrem uma responsabilidade daqueles mandatários nos três Poderes”, disse em entrevista em seu escritório em São Paulo.
Barbosa goza de respeito na comunidade empresarial brasileira por sua reputação como construtor de consensos em vários setores, tanto como banqueiro que ajudou a conduzir grandes instituições financeiras por momentos de mudanças regulatórias, quanto como membro de conselhos de importantes empresas.
Ele ressaltou, entretanto, que não fala em nome da Natura nem de qualquer outra companhia.
Além de seu papel como
presidente da Natura e de seu trabalho na intersecção entre finanças, indústria e políticas públicas, ele integra um grupo de líderes empresariais que defendem um candidato mais alinhado a propostas econômicas de centro-direita.
Segundo ele, o Brasil precisa de diversas reformas, incluindo as reformas administrativa e tributária, mas sobretudo o país precisa de uma “reforma de valores”, disse ele, referindo-se a eventos recentes envolvendo a credibilidade do Supremo Tribunal Federal e tensões entre os três Poderes. “E eu acho que essa reforma está na alma de cada um de nós. Eu acho que estamos precisando urgentemente.”
À medida que o Brasil enfrenta mais um ciclo de incerteza econômica e tensão política, Barbosa argumenta que o futuro do país dependerá de empresas e formuladores de políticas reconstruírem uma agenda comum e uma definição mais clara do papel das instituições.
Um papel único
Barbosa atua em organizações sem fins lucrativos focadas em educação, governança e sustentabilidade, e integra o conselho do Centro de Liderança Pública, um grupo apartidário que defende um governo mais eficiente e o desenvolvimento de lideranças. Isso o coloca em posição de estabelecer pontes entre a elite empresarial do Brasil e os formuladores de políticas que os regulam.
Segundo ele, seu grupo de líderes empresariais está em conversas com “cinco nomes” de presidenciáveis — sem nomeá-los — que considera alinhados aos temas mais urgentes: redução de barreiras às parcerias público-privadas, fortalecimento da segurança pública e melhoria da educação.
“A esquerda não tem o monopólio de querer o bem social do país”, disse ele.
Após Barbosa e outros líderes empresariais não conseguirem levar Tebet ao segundo turno em 2022, ele afirma que o grupo tirou lições da experiência e agora trabalha para tornar um novo candidato viável. Ele disse que estão realizando conversas não apenas com possíveis concorrentes ao Palácio do Planalto, mas também com líderes partidários e segmentos mais amplos da sociedade civil.
“As políticas propostas por esse pessoal de centro, centro-direita racional, como a gente chama, também quer o bem social do país. A questão é só de como encaminhar”, disse ele.
Barbosa não quis dizer qual candidato o grupo empresarial acabará apoiando, mas afirmou que as discussões das quais participa não incluem nomes alinhados a ideias econômicas de esquerda nem ao ex-presidente Bolsonaro, que recentemente endossou seu filho Flávio como seu sucessor político.
“O Brasil não andou para trás nesses anos, quase 20 anos de administração PT. O Brasil ficou pra trás, muito pra trás”, disse Barbosa.
“Eu estou na conta de buscar alguém de centro e centro-direita que acredite na iniciativa privada, no Estado indutor, no Estado pavimentador, para que a prosperidade surja através de empreendedorismo, através das parcerias, através das empresas privadas que têm dinheiro. Porque o governo, diga se de passagem, não tem.”
Embora não defenda o que chama de “bolsonarismo radical”, ele reconhece que algumas pautas têm intersecções com políticas da agenda da direita. “O bolsonarismo não se encaixa nisso, embora o apoio possa até vir em função das medidas, porque existe uma intersecção entre algumas crenças e aquilo que a gente está propondo. E não necessariamente são as mesmas teses.”
A busca por um candidato de centro tem um histórico recente complicado no Brasil. Muitos candidatos moderados tentaram se tornar viáveis em eleições anteriores, apenas para abandonar a disputa quando suas candidaturas não decolaram. Simone Tebet, que hoje é ministra no governo Lula, permaneceu na corrida até o fim em 2022, mas obteve menos de 5% dos votos.
Um momento para mudança
Barbosa ganhou destaque como banqueiro, tendo comandado o Banco Real e, posteriormente, o Santander Brasil. Sua trajetória o levou muito além do setor bancário — desde dirigir um grande grupo de mídia até impulsionar a agenda ESG na Natura, além de integrar os conselhos da gigante de bebidas Ambev, da Votorantim e da mineradora CBMM.
Como um experiente executivo corporativo, ele também vê a decisão do Supremo Tribunal Federal de 2015, que proibiu contribuições empresariais a candidatos, como um retrocesso para o país.
O fim do financiamento privado de campanhas, diz ele, “afastou a sociedade dos seus representantes.”
Link da publicação: https://www.bloomberg.com/news/articles/2025-12-11/fabio-barbosa-e-grupo-empresarios-buscam-candidatura-de-centro-para-apoiar-2026
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