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A expansão da infraestrutura

O investimento continua crescendo na infraestrutura, transformando o Brasil pelo lado da oferta

Valor

O ano de 2025 trouxe algumas boas notícias para a economia brasileira, além da apreciação cambial e da queda da inflação que a acompanhou. Na infraestrutura, o investimento continua crescendo, transformando o Brasil pelo lado da oferta. Novas técnicas no setor agro também vão abrindo oportunidades para o Brasil e aumentando a sustentabilidade do setor. O investimento é essencial para aumentar a produtividade média da mão de obra, mesmo que essa varie bastante entre setores.

Com a ajuda da infraestrutura, o investimento total (formação bruta de capital) vem crescendo mais que o consumo desde 2024, devendo se manter assim em 2026, acompanhando as exportações nessa toada de serem puxadores do crescimento do PIB.

O Livro azul da Abdib indica que o investimento total em infraestrutura em 2025 deve alcançar R$ 280 bilhões (2,6% do PIB), dos quais R$ 235 bilhões sob responsabilidade do setor privado. O desembolso do setor privado a preços constantes cresceu 6% em relação a 2024, enquanto que o do setor público caiu 11%. Além disso, há uma expectativa de vultosos investimentos à frente — no setor de rodovias, os leilões até finais de 2025 representam a contratação de mais de R$ 200 bilhões em obras nos próximos anos, mais ou menos três vezes os R$ 76 bilhões investidos em rodovias e logística em 2025. Há a expectativa de outros 13 leilões de rodovias federais em 2026 e oito ferroviários, como concessão ou autorização, em alguns casos com apoio do governo, como se fossem parcerias público privadas. Isso poderia gerar investimentos anuais de até 0,5% do PIB nessa década e começo da próxima.

A formação bruta de capital vem crescendo mais que o consumo desde 2024, devendo se manter assim em 2026

O investimento no saneamento tem crescido de maneira exponencial, mais que dobrando em relação à média 2010-2020, com salto de 50% de 2021 a 2023 e outros 50% de lá para cá. Aí também a participação do setor privado em sido decisiva, aumentando 1000% em relação à média das décadas anteriores. O contraponto tem se dado nas telecomunicações e na geração elétrica. Nas telecomunicações, as inovações para o consumidor individual têm sido moderadas, tornando a difusão do 5G menos rápida do que se podia esperar.

Na eletricidade ainda se digere o crescimento da geração distribuída, enquanto o marco regulatório não dá mais incentivo ao uso da geração hídrica como uma bateria natural para todo o sistema. Com isso, o aproveitamento da energia eólica tem sido intermitente e a sinalização para os investimentos menos persuasiva. Esse quadro deve mudar com a demanda de energia para o processamento de dados que vai se concretizando. Recentemente, houve anúncios importantes no Nordeste, com implicações favoráveis à retomada de produção de usinas eólicas no Brasil, além de possibilidade de criação de centros de processamento na região Sudeste. Essa retomada terá um efeito multiplicador para a indústria de transformação, que também começa a se beneficiar das expectativas de baterias e outros equipamentos elétricos.

Há inúmeras formas de armazenar energia ao redor do mundo, algumas incipientes, mas promissoras. Aplicáveis ao Brasil, pode-se destacar as hidroelétricas reversíveis, nas quais a água é bombeada para reservatórios durante o período de baixa demanda de eletricidade, e liberada para geração nos momentos de maior demanda. Número significativo de possíveis locais para esses reservatórios já foi mapeado. Também há a bateria térmica, ou seja, blocos que são aquecidos quando a energia elétrica é barata e esfriados quando a energia fica cara, assim ajudando a gerar vapor para turbinas elétricas. Maior foco no desenvolvimento dessas e outras alternativas de baixo custo para armazenamento por horas, dias, semanas, junto com avanços no despacho mais dinâmico da energia, pode aumentar a confiabilidade do sistema com impacto de custo relativamente barato.

Na agricultura também tem havido transformações com impacto no crescimento potencial do PIB brasileiro. A produção de biocombustíveis no Brasil não tende a colocar a segurança alimentar em risco, ao contrário do que é sugerido em alguns círculos, inclusive de ambientalistas. Em alguns casos, ela ajuda a aumentar a oferta de alimentos e a melhorar a sustentabilidade da produção. No caso do etanol de milho (e eventualmente do trigo), cuja produção se dá geralmente como uma segunda safra no ano, ela aumenta a rentabilidade da terra, e facilita a sua cobertura por maior tempo, diminuindo a erosão e emissões de gases de efeito de estufa.

Com o etanol, a safrinha vem aumentando e, extraída a parte “energética” do grão, também a produção de proteína. Isso vem mudando a produção de carne no Brasil, estimulando o confinamento e a maior produtividade, especialmente do gado bovino. Isso é parte do salto de produção que permitiu a produção brasileira superar pela primeira vez a americana, e com ganhos ambientais. Mais confinamento libera pasto que pode ser readequado para a produção de grãos, diminui a idade de abate, diminuindo as emissões de metano por quilo de carne produzida, e promove o reaproveitamento dos resíduos animais na produção de fertilizantes. O etanol tem estimulado também a armazenagem com o volume dos silos passando de 70 milhões de toneladas (Mt) para 120 Mt nos últimos 10 anos, enquanto a estocagem total disponível para grãos passou de 160 Mt para mais de 230Mt.

Claro, ainda há déficits de infraestrutura em todos esses setores, apesar da tendência positiva. Assim como há grandes demandas de financiamento, para os quais o crédito direcionado ainda tem papel relevante, apesar do extraordinário crescimento dos mercados de capital. Os quais, junto ao crédito, refletem a expansão de outro tipo de infraestrutura, a financeira. Nesse caso, o IBGE informa que após quase uma década de lado, o PIB do setor financeiro — ou seja, a oferta desses serviços — cresceu quase 15% nos três últimos anos, com atenuação apenas recentemente, quando, como observa o Banco Central, a concessão líquida de crédito se contraiu em consonância com os objetivos da política monetária.

Link da publicação: https://valor.globo.com/opiniao/joaquim-levy/coluna/a-expansao-da-infraestrutura.ghtml

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Sobre o autor

Joaquim Levy