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Retrospectiva 2025

Aos trancos e barrancos melhoramos a vida dos mais pobres, mas de forma muito ineficiente

Valor

2025 foi bem movimentado por aqui, como sempre costuma ser no Brasil. Tivemos a prisão de um ex-presidente, os salários continuaram aumentando, as taxas de juros continuam nas alturas, novos planos educacionais e políticas para a primeira-infância foram aprovadas. E no ano que vem teremos eleições presidenciais, que sempre tornam o cenário ainda mais agitado. Quais foram as principais novidades em 2025? Quais as perspectivas para 2026?

Em termos políticos, o principal fato do ano, sem dúvida, foi a prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro. É muito gratificante sabermos que um presidente que fez tanta coisa errada durante o seu mandato foi condenado seguindo os ritos processuais normais, e que irá pagar pelos erros cometidos, principalmente por planejar um golpe de Estado. A nossa democracia sai fortalecida deste processo.

Em termos econômicos, o mercado de trabalho está “bombando”, como está se tornando rotineiro quando o Partido dos Trabalhadores está no governo federal. Os dados de desemprego mostram que atingimos o nível mais baixo desde o início da série. O salário real está no nível mais alto, assim como a renda domiciliar per capita, que mede o padrão de vida dos brasileiros. Os principais fatores por detrás deste desempenho foram o reajuste dos valores do bolsa-família, ainda no governo anterior, do salário mínimo real e o aumento nos gastos públicos e programas sociais. E a isenção de imposto para rendas até R$ 5.000 aumentará significativamente a renda líquida da classe média em 2026, ano eleitoral.

Tivemos avanços, mas nossos principais problemas persistem: baixa produtividade e aprendizagem

A melhora das condições no mercado de trabalho é algo positivo. O problema é que este desempenho não é sustentável, porque o crescimento da produtividade, que poderia aumentar o PIB potencial, continua muito baixo. A rotina é sempre a mesma. Quando o PT está no poder, a economia cresce até atingir o limite dado pelas suas restrições de oferta. A partir daí, a inflação começa a subir, especialmente no setor de serviços, o que faz com que o Banco Central aumente os juros para inibir o crescimento. Estamos nesta fase agora, com a economia começando a desacelerar até que a inflação volte a atingir a meta.

Seria bem melhor se tivéssemos um crescimento sustentado no longo prazo, sem os trancos que esta política econômica em “marcha forçada” provoca. Os aumentos da taxa de juros real, uma das mais altas do mundo, causam muitas distorções na economia, afetando os investimentos por exemplo, o que acaba diminuindo ainda mais a produtividade do trabalho. Além disto, juros altos dificultam o acesso ao crédito e o planejamento num prazo mais longo.

Mas, para que tenhamos crescimento sustentado, precisaríamos descobrir como resolver dois problemas que estão conosco há pelo menos 40 anos. O primeiro é como destravar o crescimento da produtividade, que cresce a conta-gotas há quatro décadas. Nenhum governo até agora conseguiu desenhar políticas públicas que aumentem a produtividade de forma consistente. Todas as políticas de incentivo à inovação que tentamos tiveram resultados decepcionantes. Não conseguimos fazer com que nossas empresas se tornassem exportadoras de produtos sofisticados. Também não conseguimos abrir mais a economia. O que nos salva é o crescimento da produtividade na agricultura, que cresce continuamente há bastante tempo.

O outro problema, bastante relacionado com o primeiro, é o aprendizado dos alunos. Nós também não conseguimos desenhar políticas que façam com que os jovens aprendam mais matemática, ciências e língua portuguesa nas escolas. Ano após ano, as avaliações mostram aumentos tímidos de aprendizado em todas as faixas etárias. Há casos de sucesso em alguns Estados e municípios específicos, mas eles não são replicados em outras regiões, que continuam com qualidade da educação muito ruim na grande maioria dos casos.

No lado positivo, o governo federal e algumas unidades da federação estão começando a integrar os dados dos brasileiros que estavam em diferentes sistemas, o que deverá melhorar bastante a gestão, a implementação e a avaliação das políticas públicas. Aos poucos, os gestores estão passando a usar o CPF como identificador único na saúde, assistência social e educação. O SUS, por exemplo, está trocando o seu número próprio de identificação pelo CPF, acabando com os vários números que a maioria dos habitantes possuía. Agora os médicos poderão acompanhar o histórico de cada paciente com um prontuário eletrônico que vai segui-lo aonde ele estiver.

Mais ainda, o governo federal está montando uma base de dados única ligando todas as mães e seus filhos, que ainda não existia no país. E, com o identificador único das crianças poderemos saber o que falta para que elas tenham atendimento completo na primeira-infância. Atualmente, não sabemos o número de crianças que recebem transferências do bolsa-família, mas que não estão na creche. Nem quantas crianças participam do programa saúde da família, mas não estão no cadastro único. Assim, saberemos o que falta para que cada criança pobre receba uma atenção completa do Estado.

É um grande avanço, especialmente porque políticas intersetoriais na primeira-infância são as que têm maior impacto no desenvolvimento infantil, aprendizado e mercado de trabalho no longo prazo. Várias pesquisas recentes mostram que grande parte das crianças que foram atendidas pelo bolsa-família estão saindo do programa quando se tornam adultas. Isto mostra que as transferências de renda são capazes de romper o círculo vicioso de pobreza que ainda predomina no Brasil.

Em suma, tivemos algumas notícias boas em 2025, mas os nossos principais problemas persistem. Vamos melhorando a vida dos mais pobres aos trancos e barrancos, o que é melhor do que nada, mas muito ineficiente. Continuamos sem conseguir melhorar a qualidade da educação e o crescimento da produtividade. Há poucas esperanças de que o próximo governo, seja de que partido for, conseguirá promover as mudanças necessárias para resolver estes problemas. Para isto seria necessário enfrentar os lobbies e os movimentos corporativistas de dentro e de fora do Estado, que sugam o dinheiro público e impedem mudanças. Boas festas!

Link da publicação: https://valor.globo.com/opiniao/naercio-menezes-filho/coluna/retrospectiva-2025.ghtml

As opiniões aqui expressas são do autor e não refletem necessariamente as do CDPP, tampouco as dos demais associados.

Sobre o autor

Naercio Menezes Filho