Economista-chefe do Itaú Unibanco acredita que o ministro da Fazenda “vai partir para ofensiva de comunicação e convencimento” quando anunciar o arcabouço fiscal
Valor
Com o governo se encaminhando para completar cem dias, a abertura ao diálogo tem sido a marca da gestão do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, até aqui, na avaliação do economista-chefe do Itaú Unibanco, Mario Mesquita.
“Percebo um ministro muito aberto ao diálogo com a sociedade, com o mercado, com os economistas. Acho que, talvez, essa seja a marca mais forte do início da gestão dele”, afirmou Mesquita durante conversa com jornalistas nesta quarta-feira.
Com o caso da reoneração dos combustíveis, Haddad “começou a ganhar suas batalhas”, disse. “Agora, vai partir para ofensiva de comunicação e convencimento quando ele anunciar o arcabouço fiscal”, afirmou, acrescentando que isso deve acontecer nas próximas semanas.
Mesquita disse ver mais continuidades do que rupturas, o que considerou normal.
“Economia não muda do dia para a noite – muda quando vem de hiperinflação e tem Plano Real. Uma economia melhor, um pouco mais organizada como a nossa se tornou nos últimos anos, tem elemento grande de continuidade”, disse, apontando que o país ainda vive, em 2023, os efeitos do aperto da política monetária iniciado em 2021. “Esse é o principal fator atuando sobre a economia agora.”
Questionado sobre como vem monitorando as indicações para duas diretorias do Banco Central, Mesquita disse que “tem gente muito boa no Banco Central que pode assumir” e que “tem gente muito boa no mercado também”.
“Acho que a gente não espera uma grande mudança na condução da política monetária em função dessas duas nomeações. Mais provável que aí também a gente tenha continuidade”, disse.
Mesquita defendeu a governança para definição das metas de inflação no Brasil. “Pode gostar ou não da decisão, mas cabe ao Conselho Monetário Nacional (CMN), que é, em última instância, uma decisão do presidente, a pessoa que tem voto. A autoridade final sobre a estratégia de política monetária democraticamente fica com o presidente da República, que define qual deve ser a meta e vive com as consequências positivas ou negativas da decisão”, afirmou, reforçando que o BC também é e deve ser ouvido nesse processo.
O economista-chefe do Itaú ponderou, no entanto, os efeitos de eventuais mudanças nas metas de inflação do Brasil. “Não tem garantia nenhuma de que, subindo a meta de inflação, você reduz a taxa de juro real”, afirmou.
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