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Marcos Mendes: ‘O arcabouço fiscal vai ser furado’

Crusoé

O Brasil está em um ambiente particularmente difícil para que um prognóstico positivo para a economia nos próximos anos possa ser feito. Isso talvez resuma o sentimento do doutor em economia, autor e pesquisador associado do Insper Marcos Mendes sobre a situação atual do país.

Em conversa para o Crusoé Entrevistas, Mendes fala sobre os três principais eixos de fomento ao crescimento sustentável para a economia e para a sociedade brasileira. Crítico de primeira hora da proposta de arcabouço fiscal do governo, o economista descarta a possibilidade de uma trajetória descendente da dívida pública com os parâmetros estabelecidos na proposta.

De acordo com ele, enquanto corte de despesa for um assunto proibido no governo, as chances de uma política fiscal equilibrada e sustentável é praticamente nula. “O modelo é inconsistente”, diz ele. “A receita necessária para fechar a conta é muito alta, muito difícil de obter e agora está caindo a ficha pra todo mundoO arcabouço fiscal vai ser furado, provavelmente, já no ano que vem.

Sobre a reforma tributária, Mendes garante que há avanços importantes, mas criticou o alto número de exceções à regra. “A dona de casa, o assistente de pedreiro e o lavador de carros não têm lobista pra ir defendê-los no Senado, e a conta acaba indo pra quem não tem lobista, porque para você dar um benefício, uma alíquota diminuída para um setor, você vai ter que aumentar a alíquota para todos os outros”, explica.

Na entrevista, o economista também aponta que a discussão sobre reforma administrativa está distorcida e a proposta de Lira e do governo são praticamente iguais. Além disso, o reflexo imediato nas contas públicas é pequeno. “O efeito fiscal vai ser importante ao longo do tempo, muito mais importante vai ser o ganho de eficiência“.

Mendes conclui apontando que, dadas a dificuldade de aprovação de novas receitas no Congresso Nacional e a falta de apetite do governo  por corte de despesas, a situação é muito desafiadora. “Se a gente der sorte de fatores exógenos puxarem a economia brasileira, e isso gerar mais crescimento e mais receita, dá para tocar o barco. Se vierem fatores externos negativos, a tendência é a gente ter crise fiscal e crise política com frequência nos próximos anos“.

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