Valor
A pobreza e a desigualdade continuam entre os maiores desafios globais da nossa época. Atualmente mais de 1 bilhão de pessoas vivem na extrema pobreza e mais de 300 milhões sofrem de fome crônica. Perante esses números e essa realidade, temos que mudar nossas respostas. A pobreza e a fome exigem uma resposta coletiva.
O problema, que afeta todos os países, é particularmente grave na América Latina, uma região marcada pela pobreza e por profundas desigualdades.
A nossa região, no entanto, também tem demostrado que há políticas bem-sucedidas no combate à pobreza. A região desenvolveu e implementou programas sociais como o Bolsa Família no Brasil e o Prospera (antigo Oportunidades) no Mexico. O Bolsa Família, em particular, foi fonte de inspiração para mais de 100 países que adotaram programas similares, confirmando que boas práticas são replicáveis.
Com a Aliança Global contra a Pobreza e a Fome, a presidência brasileira do G20, não somente está destacando a fome e a pobreza como prioridades globais, como também está lançando uma plataforma inovadora, liderada por países e universal em seu escopo, que pode fazer a diferença no combate contra a fome e a pobreza. Essa plataforma fortalece ações coordenadas, busca recursos e conhecimento para implementar políticas e iniciativas que ajudarão a enfrentar a fome e reduzir a pobreza em nível global.
O BID tem como prioridade o combate à fome e à pobreza. O banco busca a erradicação da pobreza extrema na América Latina até 2030. Isso não é uma aspiração abstrata: a pobreza extrema poderá ser eliminada investindo coletivamente cerca de 1,6% do PIB da região a cada ano.
No contexto do nosso apoio à Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, o BID assume o compromisso de alocar um montante estimado de mais de R$ 140 bilhões (ou US$ 25 bilhões) entre 2025 e 2030 para apoiar os países na implementação de políticas e programas contra a pobreza e a fome. Também mais de 50% dos nossos projetos beneficiarão os mais vulneráveis, especialmente mulheres, afrodescendentes e povos indígenas. No BID LAB, nosso braço de inovação, 60% dos desembolsos terão este mesmo foco.
Além disso, estamos coordenando com outros bancos multilaterais para mobilizar mais recursos para a Aliança. Nesse sentido, recentemente, o FMI aprovou o uso de instrumento inovador para realocação dos Direitos Especiais de Saque (DES, ou SDR na sigla em inglês) aos bancos multilaterais. Em parceria com o Banco Africano de Desenvolvimento, anunciamos em julho, na reunião ministerial do G20 no Rio, nossa intenção de usar este instrumento financeiro para apoiar a Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza.
O potencial é grande. Para cada US$ 1 bilhão equivalente de SDR canalizado pelo BID, o BID gerará cerca de US$ 7 bilhões em financiamento adicional, o que resultaria em mais 4 milhões de famílias em extrema pobreza recebendo transferências de dinheiro; mais 1,3 milhão de mães e crianças recebendo intervenções essenciais maternas, neonatais, de cuidados infantis e nutricionais; 2,1 milhões de famílias pobres acessando programas de apoio aos pais; 10 milhões de crianças recebendo refeições escolares; e 600 mil pequenos agricultores recebendo tecnologias agrícolas inteligentes para o clima.
Também forneceremos assistência técnica, capacitação, treinamento e compartilhamento de conhecimento para dar suporte aos países membros da Aliança Global que optarem por implementar políticas que reforçam a proteção social e o acesso dos mais pobres à infraestrutura e a serviços básicos. Para esse fim, alocaremos em torno de US$ 200 milhões (mais de R$1,1 bilhão) em subsídios na forma de assistência técnica para políticas e programas nas áreas da Aliança.
O Rio de Janeiro já foi palco de acordos internacionais que marcaram a história, como o início dos debates ambientais da Rio-92. Hoje poderia ser novamente palco de um marco significativo, desta vez na luta contra a fome e a desigualdade.
Ilan Goldfajn é presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID)
Link da publicação: https://valor.globo.com/opiniao/coluna/do-brasil-para-o-mundo-prioridade-no-combate-a-fome-e-a-pobreza.ghtml
As opiniões aqui expressas não refletem necessariamente as do CDPP, tampouco as dos demais associados.