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A bola está com Trump

Folha

A melhor resposta de Lula ao choque tarifário que Trump impôs ao Brasil é evitar uma retaliação ampla. Se o Brasil não elevar as tarifas dos bens que importamos dos Estados Unidos o choque tarifário de Trump sobre nós será desinflacionario.

Parte dos produtos que exportamos para os EUA será direcionada ao mercado doméstico, contribuindo, portanto, para reduzir a inflação.

Adicionalmente, o choque permite que Lula proponha políticas de apoio aos setores mais atingidos. Em razão da emergência, as políticas seriam financiadas por meio de crédito extraordinário extrateto.

Ao estruturar as medidas de apoio a setores impactados é necessário assegurar que elas tenham critérios claros e bem definidos para sua descontinuidade. Não precisamos de inúmeros Perses

Evidentemente, é necessário manter as negociações de forma continuada. No entanto, tudo indica que o protagonismo deve ser do Itamaraty e menos do Ministério da Indústria e Comércio. Pela natureza das demandas de Trump, fica claro que os temas relevantes não se referem ao comércio internacional.

Ainda deve haver espaços para retaliações pontuais. Por exemplo, é possível que consigamos machucar a Boeing direcionando a nossa demanda por aviões para a Airbus.

A grande dúvida que fica é se uma possível resposta do Brasil, retaliando pontualmente e não fazendo nenhum movimento para atender as demandas, que são de fato absurdas, de Trump, será considerada por este uma situação aceitável. A bola volta para o presidente americano.

Qual é o espaço para escalar que Trump tem? Um possibilidade é o Global Magnitsky Human Rights Accountability Act. Ele permite que o presidente norte-americano impeça a entrada de indivíduos nos EUA e o autoriza a congelar os ativos que a pessoa tem no país. Pode ser usado quando indivíduos estrangeiros estão envolvidos em atos graves de corrupção ou violações significativas de direitos humanos.

Esta seria uma ação contra indivíduos específicos. No site do Departamento de Estado americano, é possível encontrar ano a ano as pessoas que foram objetos de sanções do governo americano. Em 2023, 78 pessoas foram sancionadas. Apesar de poder gerar grandes desconfortos aos indivíduos afetados, não parece ser uma ação que machuque muito o país.

Trump pode ainda empregar o International Emergency Economic Powers Act (IEEPA). O instrumento permite ao presidente dos EUA impor sanções econômicas unilaterais contra países, entidades ou pessoas estrangeiras, em resposta a uma ameaça incomum e extraordinária à segurança nacional, política externa ou economia dos Estados Unidos. Permite, por exemplo, o congelamento das reservas internacionais. Pode proibir “transferências de crédito ou pagamentos entre, por meio de, ou para qualquer instituição bancária, na medida em que tais transferências ou pagamentos envolvam qualquer interesse de qualquer país estrangeiro ou de seu nacional”.

Ao instrumentalizar ferramentas como o International Emergency Economic Powers Act ou o Global Magnitsky Act fora de contextos excepcionais, corre-se o risco de estimular movimentos de diversificação de reservas, fragmentação de sistemas de pagamento e contestação da dominância do dólar como ativo seguro e meio de liquidação internacional.

O presidente Trump que decida até onde deseja ir na sua agressão ao Brasil.

Link da publicação: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/samuelpessoa/2025/07/a-bola-esta-com-trump.shtml

As opiniões aqui expressas não refletem necessariamente as do CDPP, tampouco as dos demais associados.

Sobre o autor

Samuel Pessôa