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Serenidade é sinal de firmeza

Como não há sinal de mudança no cenário interno, o BC nada pode fazer senão manter os juros altos; no Brasil ou nos Estados Unidos o momento é de cautela

Estadão

Uma exigência do trabalho de autoridades monetárias é saber equilibrar a observação do momento da economia, com suas tensões normais, com a observação do horizonte mais longo, onde estão os objetivos da política monetária, para tomar a melhor decisão sobre a taxa de juros. Em momentos de baixa previsibilidade, serenidade é sinal de firmeza. Por isso que, na semana passada, por motivos diferentes, o Banco Central e o Federal Reserve mantiveram suas taxas de juros no mesmo patamar.

No caso do Fed, como já falei em colunas recentes, o cenário é desafiador. As tarifas impostas pelo governo Trump ainda são recentes e seus efeitos na economia americana ainda não são discerníveis.

Somadas a dados que indicam que a economia ainda está aquecida, com crescimento de 3% no segundo trimestre, de mercado de trabalho dinâmico e de uma inflação resiliente, o Fed não tinha outra saída senão manter os juros na faixa entre 4,25% e 4,5%, considerada alta para os padrões históricos do país.

É a decisão mais acertada no contexto atual. A firmeza e a tranquilidade do Fed são o que os Estados Unidos – e o mundo – precisam em um momento de muito ruído e instabilidade crônica que ameaçam a economia.

No caso brasileiro, o Copom optou por manter a Selic em 15% ao ano, um nível alto para nossos padrões recentes. O cenário internacional é adverso aos países emergentes sob a implementação das tarifas nas importações americanas. No nosso caso, apesar da lista de exceções no tarifaço ser extensa, com quase 700 produtos, e seu resultado ser menos ruim do que se anunciava, o Banco Central preferiu a cautela de manter as coisas como estão até conseguir enxergar melhor.

Há ainda certa desancoragem nas expectativas de inflação no horizonte, algo que o BC não pode tolerar, pois sua missão é cumprir a meta. A economia brasileira mantém um bom ritmo de crescimento. O mercado de trabalho se mantém aquecido, com desemprego em 5,8%, um nível baixo. Parte importante disso é resultado das reformas estruturais feitas em 2017 e 2018. A reforma trabalhista e a lei do cadastro positivo, que viabilizou a criação do Pix, aumentaram a produtividade da economia brasileira. Os resultados começam a aparecer.

Como eu já disse, em algumas situações a taxa de juros é alta porque as expectativas de inflação estão acima da meta. Como não há sinal de mudança no cenário interno, inclusive na política fiscal, o Banco Central nada pode fazer senão manter os juros altos. No Brasil ou nos Estados Unidos o momento é de cautela.

Link da publicação: https://www.estadao.com.br/economia/henrique-meirelles/serenidade-sinal-firmeza/

As opiniões aqui expressas são do autor e não refletem necessariamente as do CDPP, tampouco as dos demais associados.

Sobre o autor

Henrique Meirelles