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Raízes da estagnação industrial

A produtividade fraca e o estímulo à demanda são as causas

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Entre 2021 e o segundo trimestre de 2025 o PIB cresceu a um ritmo pouco superior a 3% ao ano; no mesmo intervalo a produção industrial, apesar do aumento considerável da extração de petróleo, cresceu apenas 0,9% ao ano. Comparado a 2013, pico de atividade industrial no Brasil, o setor encolheu nada menos do que 12%. Deve ficar óbvio que não foi por falta de demanda: o consumo das famílias, vitaminado pelas transferências do governo federal, aumentou quase 4% ao ano. Apesar dos estímulos à atividade, o setor industrial, em particular a manufatura, ficou para trás. O que pode explicar esse padrão?

Entendo ser a conjunção de dois fenômenos. O primeiro deles é o desempenho lamentável da produtividade no setor. Embora o produto tenha caído desde 2013, o emprego aumentou; a queda da produtividade também é uma realidade de 2021 para cá. Por outro lado, os salários aumentaram. Já descontada a inflação, o rendimento médio no setor se expandiu 8%, puxado pelo crescimento do salário médio da economia.

Isso reflete o segundo fenômeno, isto é, o aperto generalizado no mercado de trabalho: dada a falta de mão de obra, as empresas disputam os trabalhadores, trazendo para cima os salários. Como, porém, o aumento dos salários supera em muito o da produtividade, o resultado dessas forças é o crescimento do custo por trabalhador. Trata-se, é bom que se diga, de fenômeno generalizado, já que, exceção feita à agricultura, o desempenho da produtividade é ruim em todos os demais setores.

“A economia opera acima do potencial, como evidenciam inflação e contas externas. Isso tem consequências”

Há, todavia, diferenças importantes entre alguns desses setores, em particular serviços e indústria. Não há concorrência externa relevante no primeiro: os aumentos de salários acima da produtividade tendem, portanto, a ser repassados aos preços. Já no caso da indústria, a concorrência com o produto importado limita a capacidade de repasse aos preços, reduzindo suas margens de lucro.

Os dados amparam essa explicação. A inflação de produtos industriais no atacado desde 2021 foi inferior a 1% ao ano; no mesmo intervalo, a inflação de serviços superou 6% ao ano, revelando a diferença entre setores quanto à capacidade de repasse dos custos salariais.

A incapacidade de produzir mais a preços competitivos levou, por sua vez, a um forte aumento das importações. O saldo da balança de manufaturas, negativo em 53 bilhões de dólares em 2021, ficou ainda mais negativo; foram 70 bilhões de dólares nos 12 meses terminados em setembro de 2025.

O fio condutor desse processo é a política de estímulo ao consumo, principalmente pelas já referidas transferências do governo federal, coadjuvadas pelos incentivos ao crédito. Temos uma economia operando acima do seu potencial, como evidenciado pelo comportamento da inflação e das contas externas. Dentre as consequências, além dessas duas dimensões, está a fraqueza do setor industrial, pela dinâmica acima descrita, isto é, salários crescendo em ritmo superior ao da produtividade. A ideia de que o crescimento resulta da expansão da demanda tem consequências sérias, e negativas, para um país em que tudo conspira contra a eficiência econômica, do fechamento ao comércio exterior à caótica estrutura tributária.

A estagnação industrial é só mais uma de suas vítimas.

Link da publicação: https://veja.abril.com.br/coluna/alexandre-schwartsman/raizes-da-estagnacao-industrial/#google_vignette

As opiniões aqui expressas são do autor e não refletem necessariamente as do CDPP, tampouco as dos demais associados.

Sobre o autor

Alexandre Schwartsman