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A última ata do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada após a reunião de novembro de 2025, trouxe uma mensagem que, embora sutil, reforça a leitura de que o Banco Central está mais confiante na trajetória de convergência da inflação. Apesar de manter o trecho sobre a necessidade de manter a taxa de juros em patamar “significativamente contracionista por período suficientemente prolongado”, o documento introduziu uma nuance importante: o Comitê agora atua com “maior convicção de que a taxa corrente é suficiente para assegurar a convergência da inflação à meta”. Essa frase, embora discreta, marca uma inflexão no tom da comunicação e abre espaço para o início do ciclo de cortes já na reunião de janeiro.
A manutenção do wording era esperada, sobretudo para preservar a credibilidade conquistada ao longo de 2025. O Banco Central, sob a liderança de Gabriel Galípolo, adotou uma postura técnica e prudente, resistindo às pressões políticas por afrouxamento prematuro. Essa firmeza foi essencial para ancorar expectativas e permitir que os dados começassem a refletir os efeitos da política monetária. Agora, com a inflação corrente surpreendendo para baixo e as projeções recuando mesmo após a incorporação da isenção do imposto de renda no modelo do BC, o cenário é mais favorável a uma inflexão.
O IPCA de outubro registrou alta de apenas 0,09% mês a mês, abaixo das projeções do mercado. A média dos núcleos também veio abaixo do esperado, com destaque para surpresas baixistas em bens industriais — especialmente duráveis como artigos de residência e vestuário — e em serviços subjacentes, como seguro voluntário de veículo e serviços bancários. A alimentação no domicílio também colaborou, com in natura, tubérculos e leites apresentando desaceleração. Esses dados reforçam a comunicação do BC sobre a continuidade da desinflação, mesmo que ainda acima da meta. E essa surpresa não foi única, na verdade temos a um bom tempo visto surpresas nessa direção.
Mais relevante ainda é o impacto desses dados sobre as expectativas. A revisão baixista das projeções de inflação no Focus não se restringe aos horizontes de 2025 e 2026, mas se estende para além do horizonte relevante de 18 meses. A própria projeção do BC para esse horizonte foi revista de 3,4% para 3,3%, mesmo com a inclusão preliminar da isenção do IR — medida que, em tese, deveria pressionar a inflação. O fato de essa revisão ocorrer mesmo com o novo estímulo fiscal reforça a leitura de que a política monetária atual já está suficientemente restritiva.
Do lado da atividade, os sinais de moderação são evidentes, ainda que heterogêneos. Setores mais sensíveis à política monetária, como o crédito, já apresentam arrefecimento. O canal de crédito, embora ainda em expansão, desacelera gradualmente, com crescimento entre 8,5% e 9%. Já o mercado de trabalho, menos sensível aos juros, continua mostrando dinamismo, mas com sinais de esgotamento à medida que o país se aproxima do pleno emprego. Essa combinação — moderação sem colapso — é compatível com o início de um ciclo de cortes calibrado, que preserve a desinflação sem sufocar a atividade.
A condução da política monetária por Gabriel Galípolo ao longo de 2025 foi marcada por responsabilidade e pragmatismo. Inicialmente visto com desconfiança pelo mercado, Galípolo adotou uma postura firme, técnica e ancorada em dados, resistindo às pressões políticas por cortes antecipados. Essa postura foi essencial para reforçar a credibilidade do BC, mesmo diante de um cenário fiscal desafiador e de ruídos políticos. Hoje, essa credibilidade permite ao BC iniciar o ciclo de cortes sem comprometer a ancoragem das expectativas — um ativo valioso que Galípolo entregou ao país.
A comunicação do presidente do BC no Fórum de Investimentos da Bradesco Asset reforçou essa imagem. Galípolo reiterou que o BC não está dando sinais futuros, mas reagindo aos dados. Disse que a política monetária está produzindo efeitos graduais e consistentes, e que a manutenção dos juros em patamar restritivo foi necessária para consolidar a desinflação. Agora, com os dados apontando para uma inflação mais benigna e expectativas mais ancoradas, o pragmatismo que marcou sua gestão autoriza uma mudança de postura.
Em suma, os sinais estão alinhados: a inflação corrente mostra desaceleração consistente, as expectativas recuam mesmo diante de estímulos fiscais, e a atividade econômica dá sinais de moderação sem colapso. A ata do Copom reforça essa leitura ao afirmar, com mais convicção, que o nível atual da Selic é suficiente para garantir a convergência da inflação à meta. A credibilidade construída pelo Banco Central ao longo de 2025 — especialmente sob a condução técnica e prudente de Galípolo e sua equipe — permite que um corte em janeiro seja interpretado como parte de uma estratégia responsável, e não como uma concessão política.
Este artigo tem as co-autorias de Rita Milani, economista da BuysideBrasil, Andrea Damico, socia-fundadora da BuysideBrasil e de Luiz Fernando Figueiredo, co-chairman da JiveMaua.
Link da publicação: https://www.infomoney.com.br/colunistas/luiz-fernando-figueiredo/quais-serao-os-proximos-passos-do-copom/
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