Folha
Na quinta-feira (4), o IBGE divulgou o desempenho da economia brasileira no terceiro trimestre de 2025. O crescimento foi de 0,1% ante o segundo trimestre, menor do que o 0,3% do segundo trimestre, ante o primeiro. O consumo privado também cresceu 0,1%, menos do que se imaginava. Pela ótica da oferta, outros serviços cresceram 0,2%. Outros serviços englobam serviços pessoais, restaurantes e bares, entretenimento e turismo, entre outros. A economia claramente está desacelerando.
Quando olhamos o desempenho da economia em 2024 e comparamos com o cenário para 2025, a desaceleração é claríssima. O crescimento de 2025, que deverá fechar em 2,2%, será bem menor do que os 3,4% observados no ano passado.
A desaceleração em 2025 é ainda maior quando consideramos que em 2024 a agropecuária recuou 3,7% e a indústria extrativa mineral cresceu somente 0,5%. Para 2025, esses setores crescerão, respectivamente, 10,6% e 8,7%. Se excluirmos da contabilidade do PIB os setores que não respondem à política monetária —agropecuária, indústria extrativa mineral, aluguéis e serviços da administração pública—, o desempenho da componente cíclica da economia, que corresponde a 70% do total, irá de 4,5% em 2024 para 1,6% em 2025. A desaceleração será de 2,9 pontos percentuais.
A demanda privada —a soma do consumo e do investimento privados— cresceu 5,5% em 2024 e em 2025 deverá crescer 1,8%. Aqui, a desaceleração será de 3,7 pontos percentuais.
A conclusão inescapável é que a política monetária está funcionando.
Mas, vale lembrar, ainda temos inflação bem acima da meta. A inflação de serviços está rodando a 6%; a inflação de serviços intensivos em trabalho, a 7% e aumentando. A continuidade da desaceleração da economia promoverá em 2026 uma leve redução, de 6% para 5%, na inflação de serviços.
Em 2026, com a desaceleração que temos visto e que deverá continuar, provavelmente haverá espaço para um ciclo de queda da taxa de juros. Penso que na reunião de janeiro do Copom (Comitê de Política Monetária) haverá clareza da desaceleração —a economia deverá recuar 0,1% no quarto trimestre—, e as estimativas do colegiado indicarão inflação na meta no horizonte relevante para a política monetária, no caso, os quatro trimestres terminados no 3º trimestre de 2027. Estarão dadas as condições para o início do ciclo de queda da taxa de juros, que poderá ocorrer em janeiro ou na reunião de março.
O regime de metas de inflação é autorregulado. Se os juros ficarem elevados por tempo excessivo, a desaceleração será maior do que a necessária e o desemprego crescerá muito. Será necessário acelerar a queda dos juros. Se os juros caírem excessivamente, a inflação poderá voltar, como ocorreu no ciclo anterior de corte da Selic, de setembro de 2023 a maio de 2024. O BC foi obrigado a iniciar um ciclo de elevação da taxa de juros.
O ajuste fino da política monetária é similar a temperar a água para banho em um hotel cuja resposta da torneira não conhecemos bem. Se não tivermos calma e precisão nos movimentos, a água ficará sempre gelada ou fervendo. Não conseguimos tomar banho com água morna.
A função do Banco Central do Brasil, desde a lei que estabeleceu a autonomia operacional, é manter a inflação na meta com a menor oscilação possível da atividade econômica. Tudo indica que o BC tem feito um bom trabalho.
Link da publicação: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/samuelpessoa/2025/12/a-desaceleracao-da-economia-chegou.shtml
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