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O que esperar de 2026

Estadão

É hora de olharmos para 2026. Como é tradicional em anos eleitorais, deveremos ter um aumento das despesas do governo.

Um ajuste fiscal é essencial, porém não deve estar na agenda. Na melhor das hipóteses, a política fiscal será mantida no atual patamar. Devemos manter a esperança; porém, sem prescindir do realismo necessário.

Houve fatos positivos no ano, contudo. Na semana passada, o Congresso aprovou projeto que corta em 10% os incentivos fiscais e aumenta taxação de bets e fintechs. O texto vai na direção correta: o País deixa de arrecadar cerca de R$ 800 bilhões anuais ao conceder benefícios a alguns setores, sem controle ou comprovação da efetividade dessa prática para a economia. Faz sentido, portanto, reduzir essa renúncia de arrecadação.

Nos números divulgados pelo governo, a medida gerará R$ 22 bilhões extras no ano que vem, que podem ajudar a cumprir a meta fiscal. Mas o histórico recente desautoriza otimismo na área fiscal: sempre surgem novas despesas para ameaçar o respeito ao limite fiscal.

Uma prática negativa que deveria ser interrompida em 2026 é a exclusão de gastos do arcabouço fiscal. Somados os casos de 2025 e 2026, governo e Congresso deixaram R$ 170 bilhões de fora da regra criada para manter as contas públicas em ordem.

Como já falei, essa é uma prática de ilusão: o governo se livra de penalizações formais, mas não livra o País das consequências.

Não existe canetada capaz de apagar os efeitos negativos na economia real, como o aumento da dívida pública.

O mercado alimenta esperança de alguma redução dos juros em 2026. O Banco Central deu sinais claros de que a Selic em 15% ao ano atingiu seu teto e começa a fazer efeitos na redução da inflação. Não indicou, no entanto, uma perspectiva de início do processo de redução dos juros.

Os dados de inflação ainda não permitem enxergar isso. O principal combustível dos juros altos é a contínua expansão das despesas do governo. Ainda assim, veremos reclamações do mundo da política sobre a postura conservadora do Banco Central.

Governo e Congresso têm em mãos um projeto de reforma administrativa que atravessou o ano sendo aprimorado. Anos eleitorais são mais curtos no Congresso, mas quatro meses são suficientes para aprovar uma mudança capaz de reduzir custos da máquina pública, cortar privilégios e aumentar a eficiência dos serviços. Reformas são difíceis; nunca existe um momento ideal para elas: são feitas quando é necessário.

Desejo a todos um Feliz Natal, com paz e congraçamento, e um Ano-novo com muita saúde e esperança.

Link da publicação: https://www.estadao.com.br/economia/henrique-meirelles/nao-existe-canetada-capaz-de-apagar-os-efeitos-negativos-na-economia-real-como-o-aumento-da-divida/

As opiniões aqui expressas não refletem necessariamente as do CDPP, tampouco as dos demais associados.

Sobre o autor

Henrique Meirelles