Entrevistas

Declarações de Bolsonaro em manifestações provocam reações negativas no mercado financeiro

Jornal Nacional (publicado em 08/09/2021)

O dólar comercial subiu 2,93%, a maior alta desde 24 de junho de 2020, e terminou o dia valendo R$ 5,32. A Bolsa de Valores de São Paulo caiu quase 4%, a maior baixa desde o dia 8 de março.

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No primeiro dia útil após as manifestações bolsonaristas desta terça-feira (7), a crise institucional provocou no mercado financeiro. O dólar comercial fechou em alta e a Bolsa de Valores brasileira caiu quase 4%.

Os investidores do mercado financeiro reagiram muito mal aos discursos de terça-feira (7) do presidente Jair Bolsonaro, em que ele voltou a atacar integrantes do Supremo Tribunal Federal e o sistema eleitoral brasileiro.

“O discurso foi muito duro de novo. Tanto Senado quanto a Câmera e o STF tiveram que reagir, né? O que está acontecendo é que o mercado está mais apreensivo porque essa corda esticou mais um pouco”, afirmou Luiz Fernando Figueiredo, CEO e sócio-fundador da Mauá Capital e ex-diretor do Banco Central.

“O presidente tem colocado muito isso ultimamente: a culpa é dos governadores, a culpa é de commodities, a culpa é do exterior, a culpa é da pandemia, a culpa é de outras coisas que não o governo, e não funciona dessa forma. A gente está falando de um governo que está indo para o final de seu terceiro ano de mandato, já tem enorme responsabilidade em relação às políticas econômicas que têm sido feitas”, reforçou Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados.

O índice da Bolsa de Valores de São Paulo despencou. Fechou em queda de quase 4%, a maior baixa desde o dia 8 de março, quando o Supremo Tribunal Federal anulou as condenações do ex-presidente Lula. O dólar comercial disparou: subiu 2,93% e terminou o dia valendo R$ 5,32. Foi a maior alta desde 24 de junho de 2020, quando os casos de Covid voltaram a crescer nos Estados Unidos.

Especialistas dizem que a instabilidade no cenário político tem deixado a pauta econômica para trás. Segundo eles, as reformas que não avançam e o comprometimento do equilíbrio das contas públicas afugenta o investidor e afetam diretamente a vida dos brasileiros.

“Em primeiro lugar, afeta os investimentos, afinal de contas, sem investimento nós não conseguimos gerar emprego, gerar renda. Por que que afeta os investimentos? Basicamente porque investir é uma aposta no futuro. Se você não consegue enxergar direito o futuro, se a cada dia você tem, no âmbito político, um grau de incerteza maior, a tendência natural é assim que funciona, os investidores se retraem”, explicou Claudio Frischtak, economista da Inter.B Consultoria.

“Na medida em que você tem dúvidas do que vai acontecer para frente, você se inibe em consumir, em investir, em comprar uma casa nova ou em trocar de carro”, exemplificou Luiz Fernando Figueiredo.

“Você afeta as expectativas de todo mundo: de quem é empresário, de quem é consumidor, que, por conta desse cenário muito crítico, pode começar a pensar que pode perder o emprego e vai desacelerar consumo também, está sofrendo por conta da inflação que está corroendo sua renda. Ontem foi mais um elemento bastante crítico, bastante intenso em relação ao comportamento que o presidente tem tido ao longo do seu governo. Esse comportamento de enfrentar, de criticar e de não conciliar, chegou no ápice com os discurso que foram feitos no 7 de setembro. E me parece que esse ápice coloca portas fechadas a partir de agora em um sentido muito complicado. Reformas que a gente, eventualmente, poderia ter ao longo desses próximos meses, a gente não consegue mais avançar por esse lado. A pauta vai ficar travada por conta desse ciclo político que a gente tem agora”, continuou Sergio Vale.

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