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Sustentabilidade, o caminho certo

Empresas desatentas às tendências correm o risco de perder não só investidores e consumidores, mas também talentos

O tema Sustentabilidade, agora com o nome de ESG (da sigla em inglês para Ambiental, Social e Governança), está ganhando força a cada dia. Já vinha crescendo nos últimos anos, mas ganhou muita aceleração em 2019 – alguns exemplos são a carta do Larry Fink a investidores e o manifesto do Business Round Table – e ainda mais agora, durante a pandemia. Essa evolução não apenas é surpreendente, como é também muito positiva.

Para os que não são desse ramo, uma breve explicação sobre o assunto. De uma forma resumida, ESG é um conjunto de critérios, de filtros, que os analistas, bancos e investidores usam para avaliar se as empresas com as quais operam estão comprometidas com os aspectos Ambiental, Social e de Governança. Só se qualificam para receber investimentos e/ou empréstimos as empresas que alcançarem uma certa pontuação nessa avaliação, ou apresentarem planos para evoluir.

Evolução ocorre no âmbito de mudança geracional importante, transformadora e também notória

Quando as empresas começaram a pensar sobre o tema, há cerca de 20 anos, chamava-se Responsabilidade Social; com o tempo evoluiu para Sustentabilidade, e agora é ESG. Se antes era restrito a uma gerência ou diretoria específica dentro da empresa, agora passou a ser um tema transversal, impactando todas as áreas e influenciando diretamente a estratégia dos negócios. Assim como a área de qualidade no passado foi de responsabilidade de uma diretoria específica e depois desapareceu, pois o conceito foi incorporado pelas diversas atividades da empresa, o mesmo começa a acontecer com ESG.

Essa evolução não é surpreendente – ela ocorre no âmbito de uma mudança geracional importante, transformadora e também notória. Para isso, vale observar que as novas gerações que estão vindo e assumindo os negócios têm uma consciência ambiental, social, ética e cidadã que a geração anterior não teve. Não estamos aqui falando de indivíduos, claro, mas sim de um comportamento geracional.

Como consequência dessa visão consciente, passamos a ter um crescente número de investidores e administradores de fundos que querem – cada vez mais – saber para onde está sendo direcionado os recursos que administram. Eles têm as suas crenças e entendem que a alocação de capital é um importante caminho para moldar o mundo que querem ver.

Assim, buscam apoiar as empresas mais proativas com relação aos critérios ESG, e evitam lidar com aquelas que parecem ignorar estes critérios, ou parecem não ver as mudanças que estão acontecendo nos padrões de consumo e de tolerância. Atualmente há cerca de US$ 30 trilhões administrados por fundos que incorporam algum filtro de ESG, e esse número  só vai aumentar.

Esta mesma geração também se expressa por meio do seu modo de vida e do que consomem, e crescentemente, por exemplo, não aceita alimentos que não sejam considerados saudáveis ou sem origem conhecida, nem produtos com embalagens e resíduos que sejam nocivos ao meio ambiente.

Muitos investidores ainda acham que a utilização dos critérios de ESG levaria a retornos menores. Falso dilema. Abundam as estatísticas mostrando que os fundos ou os índices que medem o desempenho dessa categoria de investimentos há tempos já rendem mais, e não menos, do que a média das empresas, além de representarem menor risco a médio prazo.

Empresas desatentas a essas tendências correm o risco de perder não apenas investidores e consumidores, mas também talentos. Os jovens de hoje não são apenas entrevistados, mas entrevistam as empresas para saber como essas atuam na sociedade, e levam isso em consideração na sua decisão de onde trabalhar. Isso não era assim há cerca de dez anos, quando o salário era a variável dominante.

A atenção à questão da inclusão social também é cada vez maior. As empresas estão acelerando seus programas de diversidade (raça, gênero, origem sócio econômica, entre outros), entendendo não como uma restrição, mas uma oportunidade – afinal, é sabido que um grupo qualificado e diverso pensa melhor do que um grupo de iguais e melhora a qualidade da decisão e da inovação.

Por isso tudo é que podemos dizer que essa evolução é positiva. A partir do foco nesses critérios, estaremos incentivando a construção de uma sociedade melhor. Recursos sendo prioritariamente direcionados para empresas que trabalham bem a questão Ambiental, Social e de Governança tenderão a premiar as empresas aderentes, e a incentivar outras a buscarem se acertar, deixando no limbo aquelas que não compreenderem essas mudanças.

É impressionante e gratificante ver como aumentou a menção ao tema ESG em artigos de jornais e em fóruns de discussão virtuais nesses últimos meses. Apesar de certo ceticismo por parte de alguns, a certeza que vai se consolidando é que essas mudanças não apenas são duradouras e irreversíveis, como estão em processo de forte aceleração e tudo indica que “o sarrafo” só vai subir. Ou seja: atitudes e posturas aceitas hoje, certamente não serão aceitas daqui a alguns anos. Os que estão ficando para trás devem se acertar, e os que estão na linha de frente não podem parar de evoluir.

A crescente conscientização dos jovens, somada aos avanços tecnológicos, formam uma combinação de grande potencial que se vê, por exemplo, na crescente produção de energia limpa, no aumento da produtividade agrícola sem recorrer a desmatamento, na valorização dos materiais recicláveis e no desenvolvimento de aplicativos que oferecem soluções capazes de viabilizar uma maior inclusão social, como medicina à distância, ensino à distância, transações bancárias, entre outros. Cada vez mais serviços e produtos estão se tornando acessíveis, com custos decrescentes em um mundo amplamente interconectado.

As atitudes de investidores, consumidores, funcionários e cidadãos vêm mudando rapidamente e determinando um novo ambiente de negócios. Focar nos critérios de ESG não é uma restrição, mas sim uma oportunidade de bons e duradouros negócios para todos. Mãos à obra.

Fonte: Valor Econômico

As opiniões aqui expressas são do autor e não refletem necessariamente as do CDPP, tampouco as dos demais associados.

Sobre o autor

Fábio Colletti Barbosa