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Para onde estamos indo?

Broadcast AE News (publicado em 12/08/2021)

Sabe aquela resposta “posso dizer que não sei para onde  estamos indo”? A situação de hoje com facilidade nos  leva nessa direção, mas vamos tentar não nos contentar  com um futuro sem rumo! 

Vamos olhar primeiro o que tem acontecido no curto  prazo. Não vou aqui discutir sobre o governo atual, acho  que já temos muita informação e conclusões sobre isso,  mas sim em que situação estamos e quais são as  perspectivas à frente. 

Ficando nos aspectos econômicos, temos uma economia  em recuperação, devemos crescer mais de 5% este ano,  algo como 2% a 3% ano que vem, e desde o primeiro  trimestre já superamos o Produto Interno Bruto (PIB) pré-Covid. O desemprego continua alto, embora gradualmente  se reduzindo, e a inflação tem se mostrado bastante  elevada, embora em larga medida devido a choques  temporários. É importante vermos o Banco Central  bastante atento para garantir que realmente sejam  temporários e que tenhamos já em 2022 a inflação  retornando a sua meta ou em torno dela. 

Do lado de nossas contas externas, poucas vezes tivemos  uma situação tão robusta, com uma conta corrente perto  de zero e US$ 40 bilhões a US$ 50 bilhões de  investimentos diretos de estrangeiros anualmente. 

E, finalmente, o maior de nossos males que é a nossa  insustentável situação fiscal, ainda que seja importante  reconhecer, teve uma melhora recente. O déficit primário  deste ano, que era projetado em 3,5% do PIB, deverá ser  de apenas 1,5% e deverá caminhar para 0,5% no ano que  vem. Além da nossa dívida bruta sobre o PIB, que se  chegou a projetar acima de 100% e está se acomodando  ao redor de 80% do PIB. 

Quando falamos da pandemia, depois da pior  administração do planeta, pelo menos estamos saindo dela  não como grande ameaça, mas apenas mais um risco do cenário à frente, já que temos pouco mais de 50% de  nossa população vacinada com a 1ª dose e em torno de  20% com as duas doses. A ocupação das Unidades de  Tratamento Intensivo (UTIs), indicador importante de  capacidade de resposta ao vírus, está aquém de 50%,  número bem abaixo dos 85% que vimos há alguns meses  e numa clara tendência de melhora. 

Quando olhamos o mercado de ativos, que reflete a  percepção que temos sobre a situação e o futuro, ele já  embute bastante prêmio de risco e os nossos ativos têm  performado muito aquém do que performaram  praticamente todos os ativos do mundo. 

E mais à frente, o que temos? 

O grande problema quando falamos de um prazo um  pouco mais longo é que aos olhos de hoje teremos uma  eleição presidencial polarizada, de um lado a reeleição de  um presidente que foi figura importante na pior gestão de  pandemia do mundo, que flerta com o confronto a todo o  tempo e que dificilmente terá uma agenda tanto  econômica quanto de costumes minimamente razoável  num potencial segundo mandato. E por outro a volta do  grupo Lulopetista, desta vez sem nenhum pudor em trazer uma agenda populista claramente. 

A alternativa de uma terceira via, candidatura de centro,  ainda está longe de podermos enxergar. Nesse caso, temos  alguns potenciais bons nomes, com qualidade e boa  agenda. Mas o problema aqui está em termos mais do que  um candidato de centro. Se a chamada terceira via vier  fracionada, ela terá muita dificuldade de gerar um  candidato forte que consiga ir para o segundo turno. 

Essa é a grande dificuldade hoje, quando pensamos no  nosso futuro de mais médio ou longo prazo, já que sem  um novo governo razoável é muito difícil ficar  minimamente animado com as nossas perspectivas. Não é  por outra razão que, como comentei acima, apesar de  estarmos ok em termos de nossa recuperação econômica e  até de uma melhora fiscal, os nossos ativos estão bastante  depreciados. 

Minha visão é de que sem um próximo governo vindo da  terceira via, um governo de centro que reavive reformas  que nos coloquem novamente na rota do desenvolvimento  sustentável, continuaremos a patinar e a flertar com o  precipício como temos feito, tanto no período do  Lulopetismo a partir do segundo mandato do Lula quanto  o governo Bolsonaro. 

Link da publicação: https://docs.google.com/document/d/1kdOiTslPDSXRmDwzzDq4spOSv88k9JsUwQPexQZOg3Y/edit

As opiniões aqui expressas são do autor e não refletem necessariamente as do CDPP, tampouco as dos demais associados.

 

Sobre o autor

Luiz Fernando Figueiredo