Estadão (publicado em 30/01/2022)
O FMI reduziu a maioria das projeções de crescimento em 2022. O PIB mundial deverá crescer 4,4%, mas o risco é de que seja menor. EUA e Área do Euro deverão crescer 4% e 3,9%, respectivamente, com um crescimento de 5,9% nos países emergentes e em desenvolvimento da Ásia, e de 4,8% na China. O Brasil deverá crescer 0,3%, ou seja, apenas o carregamento do efeito estatístico do ano anterior com a previsão da economia permanecer estagnada em 2022.
Na última reunião do Fed foi decidido que a primeira elevação de 0,25% da taxa dos fed funds ocorrerá em março. No comunicado Powell explicitou que, entre combater uma inflação rampant (descontrolada) e proteger a economia contra a covid, fica com a primeira opção. Também deixou claro que elevações desta magnitude podem ocorrer em todas as reuniões de 2022.
A área do euro também terá uma normalização monetária, mas além dos impactos da Ômicron, o crescimento europeu é ameaçado pela crise entre Rússia e Ucrânia. A geração de energia na Europa é fortemente dependente do gás proveniente da Rússia. É possível que a ameaça de invadir a Ucrânia seja apenas uma tática intimidatória, com a qual Putin busca aumentar o peso da Europa na Otan, reduzindo o dos EUA. Qualquer que seja o seu objetivo, a mera possibilidade de uma invasão eleva o risco, o que reduz os investimentos. Talvez esta seja a razão pela qual, diante de uma inflação elevada, o BCE hesite em indicar o início e a intensidade da normalização monetária.
Na China, as razões para a queda do crescimento são mais profundas e com efeitos persistentes. Xi Jinping vem promovendo grande alteração no modelo econômico chinês. Quando procurava maximizar o crescimento através das exportações, a China estimulava os investimentos por grandes empresas. A contrapartida das altas taxas do PIB foi o crescimento acelerado dessas empresas e do poder político dos grandes empresários. Não era um crescimento cujos frutos beneficiassem a sociedade como um todo. Cresciam muito as rendas dos dirigentes das grandes empresas, mas não os salários da maioria da população.
As reformas que vêm sendo executadas buscam um crescimento cujos benefícios sejam comuns a todos, e para isso terá de basear-se no aumento da produção para o mercado interno e no aumento dos salários. Com isso a China espera evitar a polarização da sociedade, fortalecendo o poder do partido único, porém à custa da queda permanente do crescimento.
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