Valor
Ilan Goldfajn assume no próximo dia 19 a presidência do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), uma segunda-feira depois do encerramento da Copa do Mundo do Qatar.
Será a primeira vez, desde a sua criação em 1959, que o BID será presidido por um brasileiro. A eleição de Ilan foi o resultado de um trabalho que começou com o pedido de licença sem vencimentos da diretoria do Hemisfério Ocidental do Fundo Monetário Internacional (FMI). Ele foi indicado pela administração de Jair Bolsonaro e, após conversas com vários representantes do governo eleito de Luiz Inácio Lula da Silva, ficou claro que não haveria qualquer objeção à sua candidatura. Afinal, ele é um técnico, sem vínculo partidário e de renome internacional e teve apoio logo no início do governo do americano Joe Biden, que tem peso de 30% dos votos. O Brasil tem 11%, O Canadá tem 4%, e o Chile, 3%, apenas para citar alguns exemplos.
Pelo modelo do pleito, a eleição poderia se estender por cinco turnos, mas Ilan venceu no primeiro turno quando teve 80% do poder de voto dos países. Para vencer, teria que ter 50% mais um voto e obter o apoio de pelo menos 15 países da região da América Latina e Caribe. Veja a seguir os principais trechos da entrevista de Ilan ao Valor:
Valor: O que o sr. destaca na eleição de ontem?
Ilan Goldfajn: Achei interessante o fato de que tive votos de governos de diferentes matizes. A Argentina, que tinha uma candidata, acabou me apoiando. Assim como Peru, Colômbia, Venezuela, Canadá e Estados Unidos, Panamá e Japão, China, dentre diversos outros. Eu diria que foi uma forma de começar com legitimidade. Fica claro que serei o presidente de todos.
Valor: A sua candidatura à presidência do BID teve apoio explícito do governo americano?
Ilan: Sim, teve.
Valor: E do governo eleito do Brasil?
Ilan: Não teve qualquer objeção. Isso ficou claro para todos.
Valor: O Brasil pega a presidência de uma instituição multilateral em um momento difícil para o mundo. Isso realça o papel do BID?
Ilan: O momento é de desaceleração das economias mais avançadas, com a elevação da taxa de juros. Isso ocorre na saída de uma pandemia e do impacto da invasão da Rússia na Ucrânia, que elevou os preços dos alimentos e dos transportes.
Valor: A pobreza aumentou, aumentou a desigualdade e, o que é pior, a fome também aumentou. Essas são questões que estão no centro de uma parte do que o BID faz.
Ilan: Então, o banco vai ter que atuar com foco nisso.
Valor: No combate à desigualdade e à fome e, também, em projetos de infraestrutura, não?
Ilan: Sim, têm também a infraestrutura digital e a infraestrutura física para financiar os países da região. Como os juros no mundo estão aumentando, isso encarece os empréstimos para os países. O que torna mais relevante os financiamentos do BID, que são a juros de instituições multilaterais, e não a taxas de mercado.
Valor: Qual é o tamanho da carteira de empréstimos do BID?
Ilan: Ele tem uma carteira de empréstimos de cerca de US$ 14 bilhões para o setor público. Tem o BID Invest, que tem empréstimos da ordem de US$ 4,5 bilhões para o setor privado investir em tecnologia, inovação. E tem, ainda, o BIDLab , que financia as startups com cerca de US$ 100 milhões . Então, dá um total de US$ 18,6 bilhões.
Valor: Voltando à questão do apoio do governo eleito a sua candidatura, então Lula não avalizou a posição do ex-ministro Guido Mantega, que teria solicitado, em vão, o adiamento das eleições para a presidência do BID?
Ilan: Conversei com várias pessoas do PT e não tive qualquer objeção. Foi uma candidatura do Brasil e quero dizer que trabalharei com prazer e harmonia com o governo eleito.
Link da publicação: https://valor.globo.com/brasil/noticia/2022/11/20/governo-eleito-nao-fez-qualquer-objecao-diz-ilan-goldfajn-sobre-sua-escolha-para-presidencia-do-bid.ghtml
As opiniões aqui expressas são do autor e não refletem necessariamente as do CDPP, tampouco as dos demais associados.