Ex-diretor do Banco Central, Schwartsman explica que PIB reduzido em 2023 dependerá da política do Copom sobre a taxa de juros
Inteligência Financeira
“Em 2023, não teremos um motor nenhum da economia, mas sim juros altíssimos, que trarão um crescimento mais baixo, e o governo tentando enfiar o pé no freio nos gastos públicos”, diz Alexandre Schwartsman, ex-diretor do Banco Central e sócio da Schwartsman & Associados. A inflação e a manutenção da taxa Selic devem levar a um crescimento mais baixo na economia brasileira para 2023, aponta ele.
Para Schwartsman, com gastos públicos elevados, o cenário da economia brasileira torna-se de difícil sustentação. Em sua fala no 17º SIAC, promovido pela Acrefi (Associação Nacional de Empresas de Crédito, Financiamento e Investimento), ex-diretor do BC ressaltou o papel dos serviços na retomada do emprego. No entanto, a perspectiva de queda na Selic a partir do 2º semestre do ano que vem já foi revertida.
Previsão de PIB mais fraco em 2023
O PIB de 2022 deve surpreender as expectativas dos economistas e do mercado, puxado pela retomada do emprego e crescimento dos serviços. A previsão da OCDE aponta para um índice de 2,8% ao final do ano, dentro da faixa estimada também por Alexandre Schwartsman.
Ele ressalta que o patamar está acima da média para o Brasil nos últimos anos. “Mas, simultaneamente, a alta é acompanhada por uma revisão para baixo do crescimento esperado para 2023”, diz o economista.
A inflação será a principal responsável pela desaceleração no ano que vem.
O grande trunfo do PIB para este ano é o emprego. “Do começo da pandemia até o seu pior ponto, em agosto, perdemos cerca de 14 milhões de postos de trabalho. Na trajetória de recuperação, parece que o Brasil retomou o patamar de antes da pandemia”, explica Schwartsman.
A âncora do recuo do desemprego foi o setor de serviços. A suspensão do isolamento social fez a atividade do ramo — responsável por 55% das ocupações na economia brasileira e cerca de 60% do PIB — crescer no pós-pandemia.
“Praticamente, dos 16 milhões de postos de trabalho que foram criados a partir de agosto 2020, alguma coisa como 11 milhões vieram exatamente do setor de serviços.”
A renda média do brasileiro, entretanto, não acompanhou a retomada do emprego. O salário médio só voltou a subir mais recentemente, desde agosto a setembro, a passos lentos a subir. Isso porque, como mostra ex-diretor do BC, os postos de trabalho abertos se concentram no mercado informal, cuja remuneração costuma ser mais baixa.
Perspectiva de queda da Selic é revertida
Alexandre Schwartsman explica que a queda da inflação nos últimos meses se resume a um simples motivo: o corte de impostos sobre combustíveis. O decreto do governo Bolsonaro fez o preço do principal ‘vilão’ do IPCA, a gasolina, baixar.
Mas os demais índices do núcleo de inflação, como IGP-10 e IPC-S, sugerem que os preços podem subir novamente. “Quando olhamos para medidas de inflação que são menos sujeitas à manipulação [corte de impostos], vemos que a média de inflação continua extraordinariamente alta”, pontua o economista. “O índice deve continuar descolado da meta [do BC] para os próximos anos. Ao longo de 2023 e muito provavelmente em 2024 também”, diz.
A meta de inflação do BC para esses anos, respectivamente, é de 3,25% e 3%.
O aumento da inflação daqui para frente dependerá da capacidade do Banco Central de ancorar a taxa Selic. Mas, com a inversão de expectativa do mercado de o novo governo frear novos gastos, a perspectiva é de que a Selic não caia tão rápido.
“A expectativa da queda na taxa de juros do ano que vem, para em torno de 12,5% na metade de 2023, mudou por conta do cenário e do desenvolvimento da situação fiscal.”
“A percepção de que vem aí um acelerador fiscal de grandes proporções, portanto, trouxe o risco de que o BC manterá, por um período mais longo, as taxas atuais de juros. Eventualmente, a instituição pode até se forçar a elevar a Selic. Essa passa a ser uma possibilidade concreta”, finalizou Alexandre Schwartsman.
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