Diário do Nordeste
Findo o primeiro trimestre, cabe avaliar como a economia regional se comportou, do ponto de vista da atividade econômica. Para tanto, vamos considerar dados proprietários do Itaú, a família de indicadores IDAT.
O IDAT reflete gastos agregados em cartões de crédito e débito, deflacionados (compras presenciais) e ajustados sazonalmente. O IDAT pode ser fatiado segundo o tipo de despesa, gastos na compra de bens ou de serviços, bem como entre as grandes regiões do país.
O IDAT Nordeste mostra um quadro de desaceleração econômica mais pronunciado do que o que podemos observar em outras regiões do país. Considerando os dados gerais para o primeiro trimestre, comparado com o mesmo período de 2022, o IDAT Sul apresenta queda de 4,7%, o Sudeste teve queda de 7,0%, tivemos recuo de 8,9% no Centro-Oeste, 15,4% na região Norte e 17,1% no Nordeste. Já na comparação interanual na ponta (março de 2023 ante março de 2022) a região Sul apresenta retração de 6,1%, enquanto o Sudeste apresenta queda de 8,7%, com recuos de 11,8% na região Centro-Oeste, 18,4% no Norte e 23,7% no Nordeste.
Cabe ressaltar que esses critérios de comparação são muito sensíveis à base, de forma que o efeito reabertura, importante na virada de 2021 para 2022, mostra atividade mais intensa no primeiro trimestre do ano passado, talvez como compensação pelo período da pandemia, do que no início de 2023 (em especial no setor de serviços). Quando consideramos a evolução marginal dos dados, desde dezembro de 2022, observamos variações menores. O IDAT Nordeste recuou 6,6%, o da região Sul 2,4%, enquanto o IDAT Norte retrocedeu 2,1%, já os indicadores para as regiões Centro-Oeste e Sudeste mostraram alta de 2,1% e 4,9%, respectivamente.
SERVIÇOS
Em quase todas as regiões do país, a desaceleração foi mais significativa no que se refere ao consumo de serviços, do que ao dispêndio com bens. O IDAT Serviços para a região Sul declinou 10,1%, ante o primeiro trimestre de 2022, e tivemos contração de 13,5% no Nordeste, 13,6% no Sudeste, 15,2% no Centro-Oeste e 20,7% na região Norte. O efeito base responde por parte relevante desses movimentos. O setor de serviços, incluindo as atividades de bares, restaurantes, hotéis e resorts, reabriu no verão de 2022, atendendo demanda que havia sido reprimida durante a pandemia, e provavelmente superando níveis máximos anteriores. No verão de 2023, possíveis excessos passaram, após a demanda reprimida ser saciada, e as restrições às viagens internacionais foram abrandadas, aumentando a competição enfrentada pelo setor turístico nacional, que é particularmente relevante no Nordeste.
Já os gastos no consumo de bens mostram contração média de 6,2% no primeiro trimestre, ante igual período de 2022 e de 3,2% no ano. As regiões Nordeste e Norte apresentam desempenho mais fraco, ao passo que o Sudeste mostra mais resiliência – nesse caso, os efeitos da inflação e da consequente elevação da taxa de juros ficam evidentes.
Cabe adicionar um elemento de cautela na interpretação destes dados. Em primeiro lugar, como as séries são curtas, a efetividade dos procedimentos de ajuste sazonal é limitada. Adicionalmente, o indicador não inclui compras online, que usualmente são registradas nos estados/regiões da empresa vendedora. Mais fundamentalmente, os efeitos da pandemia e da posterior reabertura distorcem o comportamento dos dados. A economia superou o COVID, mas as estatísticas ainda não.
Link da publicação: https://diariodonordeste.verdesmares.com.br/opiniao/colunistas/mario-mesquita/a-economia-nordestina-no-primeiro-trimestre-1.3362172
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