Artigos

A Bienal e o mundo em transformação

A resiliência e a tenacidade são parte da matéria-prima de que é feita a Bienal

Folha

Há cinco anos estou à frente da Fundação Bienal de São Paulo, um farol para a cultura, a arte contemporânea e a educação, de cuja presidência me desligo no dia 1º de janeiro de 2024.

A 34ª Bienal, programada para 2020, foi adiada para 2021 em virtude da Covid-19. Usamos o adiamento para promover uma intensa programação digital com o programa “A Bienal Tá On“. Intitulada “Faz Escuro mas Eu Canto”, a mostra conseguiu superar todas as expectativas em um momento tão delicado, atraindo 400 mil visitantes à exposição no Pavilhão da Bienal e 300 mil à sua extensa rede de instituições parceiras.

A 35ª Bienal de São Paulo, intitulada “Coreografias do Impossível“, até pouco povoava o Pavilhão da Bienal. Foram 662 mil visitantes, em uma exposição diversa em todos os aspectos: seu público foi formado por gente de todas as idades, faixas sociais e etnias; nunca vimos no pavilhão tantas pessoas que, pela primeira vez, visitavam uma exposição de arte. Dentre esse público, tivemos um número recorde de grupos de museus internacionais, o que impacta favoravelmente a economia do turismo da cidade.

Com relação à mostra, cerca de 80% dos 121 participantes eram de origem afrodiaspórica ou indígena, oriundos dos mais diferentes contextos. Ela mesma foi composta sem hierarquia por duas curadoras afrodescendentes, uma brasileira e uma europeia, e dois curadores, um europeu e um brasileiro afrodescendente, em inédita composição e forma de trabalho.

O programa educativo, reconhecido no mundo todo como um dos grandes diferenciais da Bienal de São Paulo, continuou, ao longo da minha gestão, uma prioridade da fundação, com esforços contínuos para sempre aprimorá-lo.

Todas essas ações só são possíveis por meio do apoio de uma extensa rede de patrocinadores e parceiros. De 18, quando assumi a presidência da fundação, passamos para 48 empresas patrocinadoras, contribuindo para uma gestão financeira sustentável, com maior diversidade de fontes de recursos. Tudo isso além da parceria com as três instâncias do governo –federal, estadual e municipal.

Em 2023, aliás, fruto de nossa parceria com o governo federal, recebemos o Leão de Ouro de melhor participação nacional na 18ª Bienal de Arquitetura de Veneza, com a mostra “Terra”, feito até então inédito para o país.

A robusta governança da Fundação Bienal, composta por um Conselho de Administração e pela Diretoria Executiva, foi fundamental para seu bom funcionamento, bem como o competente trabalho da equipe permanente da instituição, também reforçada nestes últimos anos.

Os cinco anos em que estive à frente da fundação foram de grandes desafios, mas também de grandes realizações. A resiliência e a tenacidade são parte da matéria-prima de que é feita a Bienal.

É com muito orgulho e sensação de dever cumprido que me despeço da sua presidência. Desejo sucesso e sorte à minha sucessora, a competente Andrea Pinheiro, que integrou minha diretoria.

Que ela encabece a história da próxima Bienal e tenha a satisfação que tive na liderança dessa instituição vital para a arte e para a cultura no Brasil.

Link da publicação: https://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2023/12/a-bienal-e-o-mundo-em-transformacao.shtml

As opiniões aqui expressas são do autor e não refletem necessariamente as do CDPP, tampouco as dos demais associados.

Sobre o autor

José Olympio Pereira