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Lagartixa

Lula não se conforma com a perda de poder nas empresas hoje privatizadas

Estadão

Com grande pompa – e péssima repercussão –, o governo anunciou a NIB (Nova Indústria Brasileira). Só não tem nada de novo. É uma lista de desejos, pouco objetiva, que ressuscita os mecanismos de financiamento do passado, e ainda impõe conteúdo nacional. Coitados dos consumidores brasileiros.

Com tanto desenvolvimentista no Brasil, resolveram importar uma consultora. Para inovar de verdade, melhor teria sido abrir as portas do País para novas tecnologias e acelerar a descarbonização. Essa deveria ser a verdadeira missão.

Em lugar de dirimir dúvidas sobre a NIB, o governo preferiu responder à avalanche de críticas com ataques aos mensageiros das “más notícias”. Coisa de liberais e suas ideias anacrônicas, retrucou o BNDES, para, em seguida, anunciar a inovadora política de apoio à indústria naval.

Há um cheiro de mofo no ar. Até a cantilena de que privatização é crime de lesa-pátria voltou – um escárnio, segundo o presidente. Escárnio foi o que os governos do PT fizeram com nossas estatais. As empresas públicas foram salvas pela Lei das Estatais. Sua aplicação está em parte suspensa por liminar do mais petista dos ministros do STF – Lewandowski, o atual ministro da Justiça.

O inconformismo de Lula com a perda de poder político nas companhias hoje privadas passou do limite. Primeiro, foi a Eletrobras; agora, é a Vale. A pressão do governo sobre os acionistas da mineradora para emplacar Mantega foi tema do noticiário político e, pelo que foi aventado, não teria sido exatamente republicana. O governo nega, claro.

Tudo isso para retribuir a Mantega os “serviços prestados” por ele. Com Dilma já no Brics, vão acabar colocando Arno Augustin como diretor financeiro em algum lugar.

É uma tentativa de reescrever a história: o petrolão foi invenção do DOJ americano; Abreu e Lima, um grande investimento; e Mantega, o melhor dos ministros. Nem petrolão, nem década perdida, foi tudo invenção da CIA.

Não enganaram ninguém. Brasil caiu dez posições no ranking de corrupção e, em Davos, saímos da lista dos dez países estratégicos dos CEOs pela primeira vez em uma década. Investidor estrangeiro não quer saber de corrupção, nem da insegurança jurídica que a ação no STF contra a Eletrobras e a intervenção na Vale refletem. Não há NIB que resolva.

O PT já tentou reestatizar a Vale em 2003, quando o BNDES comprou uma grande quantidade de ações da empresa. Sorte nossa que o governo passado se desfez da posição que tinha.

Privatização boa é aquela em que a União vende 100%, porque estatal é igual a uma lagartixa: não adianta cortar só o rabo, que ele cresce de novo.

Link da publicação: https://www.estadao.com.br/economia/elena-landau/estatal-lagartixa-privatizacao-boa-vende-100/

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Elena Landau