Entrevistas

Mesquita, do Itaú, vê ligeiro viés de alta para inflação e defende manutenção da meta

Economista-chefe pede sinalização rápida do governo sobre qual será o caminho tomado

Valor

O economista-chefe do Itaú UnibancoMario Mesquita, disse nesta quarta-feira que há um ligeiro viés de alta para as projeções de inflação. Em meio a declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) questionando o Banco Central (BC), Mesquita defendeu a manutenção das metas de inflação já definidas e uma sinalização rápida do governo sobre qual será o caminho tomado.

Atualmente, o Itaú projeta que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficará em 5,8% em 2023 e 3,7% em 2024. Para a Selic, a expectativa é de 12,5% ao ano ao final de 2023 e de 10% ao final do próximo ano.

“Por enquanto, trabalhamos com uma perspectiva de queda de juros no final deste ano porque a projeção para 2024 [para inflação] está relativamente comportada, caminhando em direção à meta”, disse Mesquita. “Ocorre que mais recentemente, nas últimas semanas, começamos a ver uma subida das expectativas mais longas quando começou essa discussão sobre aumento da meta de inflação.”

O economista afirmou que as metas deveriam ser mantidas pois não há indicativo de que uma inflação mais alta ajude o BC. “Sobe a meta, sobe a projeção de inflação, é muito provável que isso aconteça.”

Ele frisou, no entanto, que é importante que o governo anuncie logo a sua decisão. “Quanto mais tempo fica sem um anúncio maior o risco de as expectativas subirem. É um custo dessa incerteza”, disse.

Mesquita afirmou ainda que o Conselho Monetário Nacional (CMN), responsável pela definição das metas, pode ser reunir a qualquer momento de forma extraordinária, não tendo que esperar até junho, quando usualmente ocorre essa discussão.

O CMN já definiu as metas até 2025, mas o presidente Lula tem dado declarações que alimentam especulações sobre uma revisão para cima dos objetivos, que atualmente estão em 3,25% para 2023 e 3% para 2024 e 2025.

“A meta é 3% no México, no Chile, na Colômbia. É de 2% no Peru. Por que o Brasil teria que ser uma economia mais frágil do que essas e, com isso, perseguir uma meta mais elevada?”, questionou Mesquita.

Seguindo posição adotada mais cedo pelo CEO do Itaú Unibanco, Milton Maluhy Filho, o economista também mostrou otimismo em relação ao plano fiscal em discussão na equipe econômica. “Recentemente, aumentou a incerteza em relação à trajetória da dívida pública, mas entendemos que o ministro [Fernando] Haddad está tomando as medidas. Anunciou um primeiro pacote fiscal e vai trabalhar em um arcabouço para diminuir essas incertezas”, afirmou.

Projeções para PIB

As expectativas do Itaú para o Produto Interno Bruto (PIB) em 2023 também podem subir. A projeção atual para o crescimento do país neste ano é de 0,9%, mas pode aumentar devido às melhores perspectivas para a economia global. Para o mundo, a previsão atual é de uma alta de 2,3%.

As melhoras nas perspectivas globais, segundo Mesquita, são explicadas principalmente pela mudança da postura do governo da China em relação à covid-19, que deve permitir uma retomada da atividade mais intensa no país, e pelo fato de que a Europa conseguiu aparentemente reduzir a dependência energética da Rússia.

O economista frisou ainda que vários bancos centrais estão se aproximando do fim do ciclo de aperto da política monetária. Nos EUA, a expectativa é de mais duas altas de 0,25 ponto percentual cada, disse.

Link da publicação: https://valor.globo.com/financas/noticia/2023/02/08/mesquita-do-itau-ve-ligeiro-vies-de-alta-para-inflacao-e-defende-manutencao-da-meta.ghtml

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