Gestão do presidente é errática e faz lembrar velho bordão: ‘Eu não vim para explicar’
Estadão
Guerra contra o Banco Central, idas e vindas sobre Ucrânia, a volta do anti-imperialismo americano, caça aos jabutis tributários, decretos para o saneamento, Petrobras ignorando a CVM, empréstimo para Argentina e, coroando esse elenco de retrocessos, a ação no STF contra a Eletrobras.
A lista não é exaustiva porque, enquanto escrevo, alguma nova trapalhada pode aparecer. Estou para ver uma estratégia de comunicação tão ruim, se é que tem estratégia nisso. Vai ver é só o coração de Lula transbordando.
Lula ganhou para tirar Bolsonaro. Poderia ter iniciado um governo de união após a tentativa de golpe de 8 de janeiro, mas perdeu a chance. Preferiu manter a polarização. Agora, lá vêm CPI e muitas dificuldades no Legislativo.
Montou um arcabouço fiscal que garante um mínimo de despesas sem certeza de receitas para fechar a conta. Primeiro eu gasto, depois eu vejo como pago. E não tem Desenrola que ajude o Tesouro, é mais dívida mesmo.
A busca desesperada por receitas poluiu o ambiente. O esperado era a prioridade absoluta para reforma tributária e a modernização das regras orçamentárias e finanças públicas. Em seguida, a reforma do IR colocando ricos para pagar imposto.
Não sei se essa sequência mais organizada de iniciativas teria impacto nos juros, isso é assunto para o Copom. Mas tiraria a sensação de um governo sem rumo, afobado e atabalhoado.
Na política, há o confronto com o Congresso. Primeiro, através dos decretos do marco do saneamento, e depois com ação no STF no caso Eletrobras. Dois instrumentos inadequados para implementar mudanças em leis votadas recentemente. Os partidos que formam hoje a “base do governo”, se é que isso existe, estavam presentes nas duas votações e foram derrotados. Importa é desfazer iniciativas de governos passados independentemente dos inegáveis benefícios que trouxeram, como é flagrante no caso do saneamento. Nada justifica mudar as regras atuais.
O caso da Eletrobras é escandaloso. Não há qualquer elemento de inconstitucionalidade da lei. Ouso dizer que se trata de uma litigância de má-fé – para não usar um termo mais chulo: molecagem. STF deveria devolver a ação por falta de fundamento jurídico e mostrar que aqui contratos não mudam ao sabor do governo.
A mudança na política econômica era totalmente previsível. O que surpreende é a inabilidade daquele que já foi considerado maior político do País. Em que momento, desses 20 anos, Lula perdeu a embocadura é difícil determinar, mas não ele não é mais o mesmo.
Impossível não lembrar do Velho Guerreiro: “Eu vim para confundir”.
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