Para Mário Mesquita, país ainda é visto com reservas por investidores internacionais
Valor
A agenda do Brasil em Davos não tem empolgado as empresas globais, que ainda não enxergam uma trajetória de longo prazo e crescimento mais rápido do país. “Apesar do bom desempenho [do PIB] nos últimos três anos, ainda tem um ceticismo”, diz Mário Mesquita, economista-chefe do Itaú Unibanco.
A transição energética, que está na pauta do dia dos representantes da delegação brasileira no Fórum Econômico Mundial, agrada os investidores, mas é um tema que ainda está emergindo. “A narrativa é de que vai atrair os investimentos e favorecer o crescimento do país.”
Mesquita ressalta que, no caso México, a narrativa é a realidade do “nearshoring” (cadeia de fornecedores), que já está atraindo capital e tem como parceiros comerciais Estados Unidos e China. “Não temos no Brasil, por ora, algo semelhante. Pode ser que daqui a um ano, os próprios planos do governo para o setor estejam mais claros, mais articulados e a avaliação sobre o Brasil desperte mais entusiasmo.”
Outro ponto de atenção dos investidores estrangeiros está maior participação do Estado em atividades produtivos. “Não é algo que, particularmente, entusiasme o empresariado aqui presente”, afirmou o economista-chefe do Itaú Unibanco. O programa de privatização não faz parte da agenda do atual governo, que fez pesadas críticas à gestão anterior.
Programas de desinvetimentos que estavam em curso foram suspensos – o governo petista também criticou o processo da Eletrobrás, vendas de refinarias e a saída da Petrobras da Vibra (ex-BR Distribuidora). Na mineradora Vale, o governo quer emplacar o nome do ex-ministro da Fazenda, Guido Mantega.
“De uma forma resumida, o entendimento aqui em Davos é de que a inflexão na política para ter mais [participação] do Estado, sinaliza que [o governo] não está tão interessado em ter um papel mais predominante do setor privado”, afirmou Mesquita.
Segundo ele, as empresas globais que estão instaladas no país, em boa parte, não têm participação estatal. “Não é natural para elas ver essa proximidade entre o Estado e o mundo corporativo.”
Os conflitos geopolíticos também ajudaram a desviar a atenção do Brasil, por conta das incertezas que geram. “Como o Brasil não é uma economia que cresce tanto, mas também não está em crise, não houve a um foco tão grande do ponto de vista macro”, reforçou. O Itaú Unibanco projeta crescimento de 1,8% para este ano.
No ano passado, com a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o Brasil atraiu os holofotes em Davos. Empresários e investidores queriam entender a agenda econômica de Lula e queriam ouvir os planos do país para agenda ambiental e política externa. Marina Silva, ministra do Meio Ambiente, e Fernando Haddad, ministro da Economia, representaram o governo brasileiro nos Alpes suíços.
Marina Silva voltou a fazer parte da delegação do Brasil, junto com Alexandre Silveira, ministro de Minas e Energia, e Nisia Trindade, da Saúde, além de Luis Roberto Barroso, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), este ano.
Os investidores reconhecem, contudo, que Brasil e México se destacaram nos últimos anos por conta de um crescimento maior do que em países, como Chile, México e Peru, que despontavam pela expansão maior.
“Davos foi relativamente neutra em relação ao Brasil este ano”, afirmou Mesquita. Isso não significa, contudo, que o país vá sair do radar dos investidores. A aprovação da reforma tributária é bem vista pelas multinacionais. “Todos os grupos que operam no Brasil reclamam da complexidade do sistema tributário.”
Faltou à delegação brasileira, segundo Mesquita, trazer essa agenda para Davos e explicar que, com a implementação da reforma, haverá uma simplificação importante dos tributos e que os benefícios vão aparecer de forma gradual.
O mercado também tem acompanhado as discussões sobre o ajuste fiscal. Mas há um entendimento de que o tema não tem um efeito forte o suficiente para se caracterizar como uma crise.
Investidores preveem economia mundial mais fraca neste ano. No Brasil, a safra agrícola não vai ter o mesmo desempenho do ano passado, que ajudou a sustentar o PIB. O Itaú Unibanco prevê crescimento de 1,8% para este ano. O banco também prevê que a política monetária do governo deverá jogar mais estímulos para impulsionar a economia a partir do fim do ano e em especial em 2025.
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