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O Brasil diante de Trump

Sem um ajuste fiscal significativo, a economia brasileira pode sofrer ainda mais com a possível política protecionista do novo governo americano

Estadão

A partir desta semana, o mundo começa a descobrir o que era oratória de campanha e o que será de fato colocado em prática pelo governo Trump. Ao Brasil, o que mais interessa serão as eventuais atitudes protecionistas prometidas. Tempos difíceis podem vir e o Brasil precisa estar preparado para atravessá-los.

O principal alvo de Trump é a China. Segundo dados divulgados na semana passada, a China teve um superávit comercial de US$ 990 bilhões em 2024. É uma enormidade. Trump quer impor taxas a produtos chineses para que – no seu entender – empresas americanas retomem o mercado interno, exportem mais e gerem mais empregos para americanos.

As coisas são mais complicadas que isso. Medidas protecionistas podem levar a um aumento da inflação nos Estados Unidos. Inflação alta significa juros mais altos, menor crescimento e pode fazer com que investidores migrem suas posições em países emergentes para títulos americanos. Isso sem falar no abalo no comércio internacional.

Crises nunca chegam em boa hora. Se as atitudes de Trump levarem a uma, o Brasil não está no seu melhor momento para enfrentá-la. Existe uma preocupação do mercado em relação às suas contas. O Estadão mostrou recentemente que o Tesouro Nacional tem pagado taxas mais altas para se financiar.

O Brasil não está no melhor momento para enfrentar uma possível crise gerada por Trump

Além de o ajuste fiscal ter sido desidratado pelo Congresso, foi aprovado também um plano de renegociação da dívida dos Estados que pode gerar R$ 100 bilhões em gastos extras para os próximos cinco anos. Em resumo, o Brasil precisa tomar medidas mais fortes do que as do ano passado para gastar menos, buscar equilíbrio fiscal e, assim, reduzir a trajetória de elevação da dívida pública, que está na casa dos 78% do PIB, um patamar alto para países emergentes.

O Banco Central já estabeleceu que elevará os juros em ao menos mais dois pontos porcentuais. As projeções do relatório Focus indicam um crescimento menor este ano, na casa dos 2%, o que faz sentido diante do cenário de juros e dólar mais altos. No ano passado, a Bolsa brasileira recuou 35% em dólar. É um sinal de desconfiança.

Em momentos de crise, discursos políticos não adiantam muita coisa. O importante é a demonstração de responsabilidade fiscal e de estabilidade da economia. Espero que o governo coloque em prática uma nova rodada de medidas de ajuste nas contas públicas, como foi anunciado pelo secretário executivo do Ministério da Fazenda, para suprir a insuficiência do pacote do ano passado. O melhor que o Brasil pode fazer durante o governo Trump é ter sua economia em ordem.

Link da publicação: https://www.estadao.com.br/economia/henrique-meirelles/o-brasil-diante-de-trump/

As opiniões aqui expressas são do autor e não refletem necessariamente as do CDPP, tampouco as dos demais associados.

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Henrique Meirelles