Folha
Acaba de ser publicado em uma das quatro melhores revistas acadêmicas que há —o Quarterly Journal of Economics— artigo escrito pelo pesquisador Amory Gethin. A pesquisa de Gethin mede o impacto da elevação da escolaridade da população, de 1980 até 2019, sobre o crescimento da economia mundial e o crescimento da renda da população do quinto inferior da distribuição da renda global.
O artigo calcula qual teria sido a renda em 2019 se de 1980 a 2019 a escolaridade da população mundial não tivesse se elevado.
No período, a renda média per capita cresceu 1,6% ao ano. A melhora educacional explica 0,7 ponto percentual do crescimento ou 45%. Para o quinto inferior da distribuição de renda, isto é, os 20% mais pobres, o crescimento anual da renda no período foi de 1,9%. A escolarização responde por 1,1 ponto percentual ou 58% do crescimento.
No exercício, Gethin considerou que o estoque de capital não se alterou. Mas, se no período a escolaridade não tivesse se elevado, o retorno do capital teria sido menor. E de um retorno menor do capital o investimento seria menor e, consequentemente, o crescimento econômico teria sido menor.
Quando ele adiciona ao efeito direto da educação sobre o crescimento econômico o efeito indireto fruto da elevação do investimento, a parcela do crescimento econômico mundial de 1980 a 2019 explicado pela educação cresce de 45% para 62%, e de 58% para 67% para a renda do quinto inferior da distribuição de renda.
O trabalho também apresenta o impacto da melhora educacional sobre a queda da pobreza. Se empregamos a linha de pobreza de US$ 2,15 por pessoa por dia, a melhora educacional explica 35% da queda da pobreza.
Finalmente, a melhora da escolaridade nos diversos países no período foi essencial para que a desigualdade no mundo não crescesse. O ganho educacional contribui para mitigar a elevação da desigualdade de renda que ocorreu no interior de boa parte dos países do mundo. Consequentemente, a desigualdade na economia mundial não se elevou.
O estudo consolida uma quantidade imensa de pesquisas domiciliares, para inúmeros países, cobrindo mais de 97% da população do mundo de 1980 a 2019. A especificação é muito flexível. Considera que o retorno da educação seja diferente nos diversos países para os variados níveis de escolaridade.
Apresenta evidências de que o ganho salarial associado à maior escolaridade subestima levemente o impacto da educação sobre a produtividade do trabalhador e que o efeito agregado de escolarizar uma população é bem captado pelo ganho de salário individual.
A teoria empregada para mensurar a importância da escolarização da população no crescimento é parcimoniosa. Provavelmente, o exercício de Gethin subestima a importância da educação para o crescimento econômico e para a redução da pobreza. O autor empregou o retorno de mercado da educação.
Se houver qualquer impacto positivo da educação que não seja expresso pelo ganho de salário que o mercado de trabalho paga à maior escolaridade —por exemplo, pessoas com mais educação, na média, cometem menos crimes e educam melhor seus filhos—, o efeito sobre o crescimento econômico será maior.
Após 70 anos dos primeiros trabalhos de economia da educação, com as novas bases de dados e uma capacidade computacional imensa, foi possível colocar números nas intuições iniciais dos pioneiros da década de 1950. O conhecimento avança.
Link da publicação: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/samuelpessoa/2025/08/a-importancia-da-educacao.shtml
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