Na quarta, autoridades monetárias discutirão e tomarão decisões técnicas com vista à estabilidade das economias de Brasil e Estados Unidos no longo prazo; é assim que deve ser
Estadão
Na terça e na quarta-feira, o Comitê de Política Monetária do Banco Central e o Board of Governors do Federal Reserve se reúnem para discutir as taxas de juros no Brasil e nos Estados Unidos. As coincidências de momento vão além das datas.
Ambas as autoridades monetárias avaliarão taxas de juros em níveis altos, pelo padrão de cada país. Diante de sinais de inflação resiliente, ambas estão sob certa pressão política, com sua independência sendo testada. É um momento em que é necessário reafirmar a necessidade dessa independência, pelo bem das duas economias.
No Brasil, o Copom não tem uma decisão difícil à frente. Não há mudanças no cenário que justifiquem mexer na taxa Selic, atualmente em 15% ao ano. Na semana passada, o IPCA registrou deflação de 0,11% em agosto. Mas foi uma queda pontual. Além disso, como a inflação anual ainda está acima da meta, o mais provável é a manutenção dos juros no patamar atual.
Nos Estados Unidos, a inflação de agosto registrou alta de 2,9% em relação ao mesmo mês do ano passado, uma aceleração sensível. Mas, ao mesmo tempo, o mercado de trabalho começa a enfraquecer. Há uma expectativa no mercado de que o Fed comece a reduzir, com cautela, a taxa de juros – hoje entre 4,25% e 4,5% ao ano, alta pelos padrões americanos.
A reunião do Fed está cercada de certa tensão pela participação da diretora Lisa Cook, que o governo Trump tenta remover para indicar um substituto. Na semana passada, a Justiça manteve Cook no cargo até a análise do mérito. É a primeira vez em 90 anos que um presidente tenta trocar um diretor do Fed antes do fim do mandato. No Brasil, há duas semanas, o Congresso aventou a possibilidade de examinar um projeto de lei que permitiria a parlamentares remover diretores do Banco Central.
Para o bem do País, o projeto foi esquecido.
O Fed é independente desde 1935, o Banco Central atingiu este nível em 2021. A coincidência na pressão política sobre as duas instituições mostra que a independência das autoridades monetárias não é garantida para sempre; deve, sim, ser defendida e exercida constantemente para fortalecer as instituições. Autoridades monetárias servem para garantir a estabilidade das economias, uma tarefa que exige olhar de longo prazo e imunidade ao imediatismo da política.
Na terça-feira, diretores do BC e do Fed examinarão dados sobre as economias dos seus países. Na quarta-feira, discutirão e tomarão decisões técnicas, baseadas nos dados, com vista à estabilidade das economias de Brasil e Estados Unidos no longo prazo. É assim que deve ser, é para isso que servem o BC e o Fed.
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