Artigos

Medida para crédito imobiliário estimula ao mesmo tempo em que Copom tenta conter demanda, diz Schwartsman

Faria Lima Journal

 Mudanças no crédito imobiliário anunciadas hoje pelo governo são estruturalmente positivas para o segmento e podem até ajudar a política monetária no futuro, mas “a questão é o período de transição até você chegar lá”, devido ao estímulo à demanda no curto prazo, que vem enquanto o Banco Central tenta esfriar a economia por meio dos juros restritivos, avaliou o ex-diretor do BC Alexandre Schwartsman, em entrevista à TC News.

Pela manhã, ao participar de cerimônia de lançamento do programa de crédito, ao lado do presidente Lula e ministros, o presidente do BC, Gabriel Galípolo, disse entender que o plano poderá ajudar “na potência da política monetária”, em declaração recebida com estranheza por agentes do mercado financeiro, que reagiram negativamente à fala.

Para Schwartsman, melhorias nas condições para um mercado de crédito sensível às taxas de juros, como o imobiliário, podem fazer com que “lá na frente” a política monetária tenha de fato maior potência. “Mas, em um primeiro momento, tudo mais constante, aumentando a oferta de crédito significa um impulso a mais sobre a demanda.. ao mesmo tempo em que você está tentando conter a demanda por outro lado”.

“É uma questão de ‘timing’… então tem uma certa esquizofrenia aí nesse período de curto prazo, e imagino que o mercado tenha reagido mal a isso”, afirmou Schwartsman, ao ser questionado sobre as declarações de Galípolo e o movimento do mercado, em participação no programa TC News.

Pouco depois das falas de Galípolo, o Ibovespa acelerou viés de baixa e renovou as mínimas da sessão, enquanto o dólar disparou mais de 1%, voltando a operar no patamar de R$5,50. Ao mesmo tempo, a curva de juros passou a exigir mais prêmio, com ênfase na cauda longa, que subia 20 pontos-base e avançava e maior ritmo ante os vértices curtos, em um movimento técnico conhecido como “Bear Steepening”.

Schwartsman explicou que, como aumentos ou reduções de juros pelo BC encarecem ou barateiam financiamentos imobiliários, a consolidação de um mercado mais amplo de crédito para o setor no Brasil abriria “um novo canal” de transmissão da política monetária, como citado por Galípolo. No evento de hoje, o presidente do BC chegou a comentar que os empréstimos para imóveis no Brasil representam proporção do PIB bem menor que em países pares, por exemplo.

“Isso aí existe, é um canal importante de transmissão de política monetária nos Estados Unidos, onde o mercado hipotecário é grande, bastante desenvolvido. Ele é bem menos desenvolvido no Brasil”, afirmou.

TIMING

Na visão do economista, que esteve na diretoria do BC entre 2003 e 2006, com esse e outros fatores, o Comitê de Política Monetária (Copom) deve iniciar flexibilização da política monetária apenas no primeiro trimestre de 2026, e não ao fim deste ano, como parte do mercado chegou a precificar anteriormente. “Em janeiro, menos provável; em março, mais provável. Mas é por aí”, afirmou.

Ele se baseia em expectativa de que, no início de 2026, o BC esteja projetando que a inflação no horizonte relevante, que estará olhando no terceiro trimestre de 2027, poderá cair a 3,3%, perto do centro da meta, de 3%. “Um pouco acima da meta, mas historicamente o BC não espera estar exatamente ali, por isso esperamos que seja em algum momento do 1T26.”

Link da publicação: https://flj.com.br/economia/medida-para-credito-imobiliario-estimula-ao-mesmo-tempo-em-que-copom-tenta-conter-demanda-diz-schwartsman-ex-bc/

Sobre o autor

CDPP