Folha
Em 2021, o investimento no Brasil correspondeu a 20,8% do PIB, ou seja, da economia. Esse número foi obtido a preços constantes. Não foi, portanto, influenciado pelo encarecimento dos bens de investimento ocorrido após a recuperação em “V” da economia mundial no segundo semestre de 2020.
O nadir do investimento foi no 3º trimestre de 2017, quando atingiu 16,8% do PIB. Ou seja, após a nossa grande crise econômica de 2014 até 2016, o investimento cresceu quatro pontos percentuais do PIB.
Meu colega Manoel Pires, coordenador do Observatório de Política Fiscal do FGV-Ibre, acaba de divulgar uma série histórica do investimento do setor público desde 1947. Entre 2017 e 2021, o investimento público ficou constante.
Ou seja, a elevação do investimento entre 2017 e 2021 foi do investimento privado.
De fato, meu colega do FGV-Ibre Gilberto Borça Jr., em um post no Blog do Ibre, documentou que um ponto percentual do PIB do aumento do investimento se deveu a uma questão puramente contábil, associada à alteração na forma de contabilização da operação de novas plataformas de exploração de petróleo no Brasil.
Ou seja, desde 2017 o investimento privado, a preços constantes e já descontando a superestimativa do investimento, fruto da alteração na forma de contabilizar das novas plataformas, aumentou em três pontos percentuais do PIB.
Há evidências de que, desde 2016, a rentabilidade das empresas tem subido. Segundo a base de dados da Economática, a geração de caixa das empresas abertas brasileiras como fração do faturamento —tecnicamente o lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização (Lajida), como fração do resultado operacional líquido (ROL)— subiu de 16%, em 2014, para 28%, em 2021. Entende-se, portanto, os motivos da elevação do investimento. Para as empresas abertas que constam na base da Economática, o investimento subiu de 2,6% do PIB em 2018 para 4% em 2021.
No passado recente, houve um outro ciclo de aumento do retorno do capital. Entre 1995 e 2004, o Lajida/ROL elevou-se de 12% para 27%, estabilizando-se, em seguida, em 25% de 2005 até 2007. De 1995 até 2007, o investimento das empresas abertas subiu de 1,5% do PIB para 6,7% do PIB, atingindo o pico de 7,8% do PIB em 2008.
Tudo sugere que as empresas, após nossa grande crise, se ajustaram, renovaram os ajustes na pandemia e estão rentáveis e prontas para elevar seus investimentos ainda mais.
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Na segunda-feira passada (25), houve no Insper o lançamento do livro “Nós do Brasil, Nossa Herança e Nossas Escolhas”, editado pela Record, de minha amiga e recém-empossada secretária do Desenvolvimento Econômico de São Paulo, Zeina Latif.
O objetivo do livro é abordar a nossa grande estagnação de 40 anos —entre 1980 e 2021, o produto per capita da economia brasileira cresceu ao ritmo de 0,7% ao ano, e a produtividade do trabalho, a 0,6%.
Após o primeiro capítulo, em que os números e os principais fatos econômicos são apresentados, Zeina passa a tratar do tema em um corte transversal, olhando de inúmeros pontos de vista.
Temas como o atraso educacional, raízes históricas, Judiciário, nossas instituições democráticas, as Forças Armadas, a cidadania falha, a falta de uma classe média, os problemas do serviço público, a imprensa e finalmente nossos departamentos de ensino e pesquisa em economia, com um peso imenso de correntes de tradição heterodoxa.
Trabalho interdisciplinar, com erudição, sustentado na melhor literatura moderna. Leitura obrigatória para quem deseja entender como chegamos aqui.
Link da publicação: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/samuelpessoa/2022/04/o-investimento-privado-cresce.shtml
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