Para Figueiredo, nova configuração do Congresso deve levar candidatos a presidente em direção ao centro, e limitar radicalismos
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Com o resultado apertado no primeiro turno da eleição presidencial e crescimento de partidos de centro e centro-direita no Congresso, tanto o presidente Jair Bolsonaro (PL) quanto o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PL) terão que ir em direção ao centro, afirma Luiz Fernando Figueiredo, sócio-fundador e CEO da gestora Mauá Capital e ex-diretor de Política Monetária do Banco Central.
“Estamos mais no caminho da racionalidade e menos do radicalismo”, diz Figueiredo.
Para Figueiredo, o bom desempenho dos candidatos do PL, que passou a ser a maior bancada na Câmara e no Senado, mostra que há chance de uma vitória de Bolsonaro no segundo turno. “O Bolsonaro tem um grande desafio pela frente , mas não está fora do páreo”, diz.
No caso de uma eventual vitória de Lula, Figueiredo acredita que o ex-presidente terá que ir mais para o centro para ter base de apoio no Congresso. “Qualquer movimento de Lula ao centro será bem-visto pelo mercado”, disse Figueiredo.
Isso poderia passar pela indicação de um nome de mercado para ministro da Economia, como Henrique Meirelles, ex-presidente do BC no governo Lula, mas até agora o PT ainda não deu pistas sobre a composição da equipe econômica.
Para Figueiredo, um ministro com perfil político para a pasta não necessariamente seria mal visto pelo mercado, dependendo de quem for. “O Palocci [Antonio Palocci, ex-ministro da Fazenda no primeiro governo de Lula] foi um ministro muito bom, não é porque é político que é ruim”, disse Figueiredo.
Nova âncora fiscal é ponto de atenção para 2023
Um dos pontos mais importantes para o ano que vem, segundo Figueiredo, é saber qual será a nova âncora fiscal do próximo governo.
O ex-presidente Lula já declarou que não pretende manter o teto de gastos (medida que limita o aumento das despesas do governo à inflação do ano anterior) e prometeu aumento dos desembolsos com programas sociais e investimentos em infraestrutura.
Lula, contudo, ainda não indicou qual seria a nova âncora fiscal em seu governo. “Alckmin [Geraldo Alckmin, ex-governador de São Paulo] tem sinalizado que gosta do modelo de adoção de meta de superávit primário, mas não sei se isso seria aceito pelo PT”, diz Figueiredo.
No caso de reeleição do presidente Bolsonaro, a equipe econômica do governo já discute propostas para o que seria a nova âncora fiscal no lugar do teto de gastos, como, por exemplo, a adoção de meta para dívida pública semelhante à adotada para inflação, em que haveria uma banda de flutuação.
A nova composição do Congresso, que cria uma tendência dos governos migrarem para o centro, pode facilitar o caminho do Banco Central em relação ao início de corte de juros esperado para o ano que vem.
“O mercado está me mostrando que a taxa de juros começa a cair em abril, o BC sinalizou junho, mas aumenta a chance de esse processo começar mesmo em abril, mas está muito cedo para dizer”, diz Figueiredo.
Esse processo vai depender também do cenário externo. Para Figueiredo, o banco central americano deve continuar apertando a taxa de juros para trazer a inflação para meta até que a taxa de desemprego, hoje em 3,7% , caia para perto de 5%. “Por enquanto, estão distantes de ver a inflação começando a ficar para baixo”, diz.
Na Europa, o choque de preços de energia, principalmente do gás, com a guerra na Ucrânia é um desafio, principalmente com o risco de faltar energia no inverno, mas isso, segundo Figueiredo, já está em grande parte precificado nos mercados, com as bolsas europeias acumulando perdas no ano e o euro alcançando a paridade com o dólar.
O Brasil, segundo Figueiredo, está melhor nesse cenário, com o BC tendo antecipado o ciclo de aperto de juros e encerrado esse processo que está em curso em outros países. “O Brasil consegue crescer mais com as próprias pernas e é pouco dependente do crescimento mundial, até porque não é esperado uma queda muito grande dos preços de commodities”, diz.
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