Entrevistas

‘Crédito machuca e precisa de cultura e processo’, diz José Berenguer, CEO do Banco XP

Valor (publicado em 15/12/2021)

Instituição vai privilegiar operações com garantia dentro da carteira atual: “Não adianta oferecer linhas em que o cliente quebra em seis meses”

A XP não pretende avançar tão cedo em outras linhas de crédito e vai privilegiar numa primeira fase as operações com garantia de investimentos dentro da própria base de clientes. “Não adianta oferecer linhas em que o cliente quebra em seis meses. Se pega o crédito‘clean’ [sem garantia], é quase impossível que ele possa sobreviver”, disse José Berenguer, CEO do Banco XP, ao participar de encontro com investidores.

“A gente entende que são produtos demandados, hoje existem ferramentas como o cadastro positivo, a central de recebíveis. Pode ser que o risco dessa operação diminua, e a gente vá entrando aos poucos nessas linhas de negócios. Mas crédito machuca e precisa de cultura e processo.”

A ênfase da XP é começar com as “frutas mais baixas”, entrar nesse tipo de operação de forma cautelosa para “não inviabilizar o cliente” a ponto que ele “deixe de ser um cidadão financeiro”, destacou Berenguer.

Guilherme Benchimol, presidente do conselho de administração da XP, reforçou que o grupo tem a disciplina clara de seguir uma sequência de passos e não pretende queimar etapas só para ganhar atalhos na base de clientes.

“O tempo está a nosso favor porque temos um time jovem, vamos entrar na sequência correta para otimizar o risco e o retorno, acumulando capital e tomando mais risco à frente”, comentou. “Entrar em setor que esfola o cliente a 300% ao ano no cheque especial não faz sentido. A XP só pode entrar em segmentos em que realmente ajude as pessoas.”

O CEO da XP, Thiago Maffra, acrescentou que se demorar um a três anos para desenvolver uma nova vertical não é nada para a XP, já que a visão é de um projeto para 20, 30 anos. “A gente não vai sair acelerando coisas que não tenha conforto, senão corre o risco de se embananar na execução e no risco de crédito. Vamos captando valor, gerando valor e resultado.”

O executivo destacou que, na base atual que já usa o crédito com colateral, em 97%, a provisão para devedores duvidosos (pdd) esperada é menor que 2%. “Não está no radar o crédito clean, ir para o mar aberto para atrair um perfil diferente, só para ter milhões de clientes. Essa não parece ser a fruta mais baixa para a gente.”

Em cartões, a base já chega a 200 mil clientes, e em menos de um ano desse tipo de oferta a XP já aparece entre os 10 maiores emissores. Recentemente, a plataforma abriu a oferta para quem tem investimentos a partir de R$ 5 mil com a instituição.

Link da publicação: https://valor.globo.com/financas/noticia/2021/12/15/credito-machuca-e-precisa-de-cultura-e-processo-diz-jose-berenguer-ceo-do-banco-xp.ghtml

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