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Petróleo, alimentos e inflação

Estadão (publicado em 13/03/2022)

Em artigo publicado em 4 de março, Paul Krugman confessou-se intrigado com o preço do petróleo chegando a US$ 130 por barril, praticamente se igualando, em termos reais, ao preço atingido durante a Revolução Iraniana, em 1979. Afinal, a Rússia representa apenas 11% da produção mundial, enquanto nos anos 1970 os países do Golfo Pérsico representavam 30%. A suspeita é de que a reação do mercado seria exagerada.

Mais importante foi sua advertência quanto à elevação dos preços dos grãos. Antes da guerra, Rússia e Ucrânia, que são grandes produtores, representavam mais de 25% da exportação mundial de trigo. Desde o início da guerra, o índice CRB de preços internacionais de “commodities alimentos” acentuou o crescimento que já vinha ocorrendo, e de dezembro de 2021 até a última semana cresceu a uma taxa que é superior ao dobro da taxa à qual o real se valorizou. Ou seja, a recente valorização do real não consegue compensar o aumento dos preços em dólares.

Se Krugman estiver certo, é possível que os preços do petróleo recuem um pouco. Porém, devido aos efeitos econômicos e humanos da guerra, dificilmente a reorganização da produção agrícola ocorrerá em tempo hábil para reduzir os preços dos alimentos. São dois choques de oferta atuando simultaneamente, com reflexos importantes sobre a inflação brasileira.

O governo chegou a cogitar que a Petrobras congelasse os preços do diesel, do óleo combustível e da gasolina, mas isso seria um desastre. Embora tenha mais de 50% do capital votante da empresa, detém apenas 36% das ações, e é de capital que ela depende para produzir petróleo no pré-sal ao custo marginal de US$ 8 por barril. A simples hipótese de congelamento derrubou os preços das ações da Petrobras, prejudicando os acionistas privados e o País como um todo. 

Cogitou, também, de subsidiar os combustíveis, mas acabou abandonando a ideia em favor da racionalidade, optando por reajustar preços dos combustíveis, com o que reduziu sua defasagem em relação aos preços internacionais.

Agora cabe ao Banco Central recalibrar a política monetária para reduzir uma inflação que será mais alta do que antes desses choques. Para tanto, terá de elevar ainda mais a Selic quando a taxa real de juros de um ano, que é a relevante para a atividade econômica, já está em 7% ao ano, e que neste nível já leva a um forte encolhimento da demanda.

Com isso, cresce o risco de que no início de 2023 a economia já esteja em recessão. 

Link da publicação: https://economia.estadao.com.br/noticias/geral,affonso-celso-pastore-petroleo-alimentos-commodities-inflacao,70004006796

As opiniões aqui expressas não refletem necessariamente as do CDPP, tampouco as dos demais associados.

Sobre o autor

Affonso Pastore