Ex-presidente do Banco Central, ele criticou o esvaziamento de programas de governo em meio à polarização ideológica nas eleições durante conversa com os jornalistas Vera Magalhães e Carlos Andreazza para o podcast 2+1
O Globo
Em entrevista ao podcast 2+1, Pérsio Arida, ex-presidente do Banco Central e do BNDES, lamentou a falta de programas de governo a 10 dias do primeiro turno das eleições. No ‘corre-corre’ da campanha do PT para o voto útil e dos demais candidatos para manter o eleitorado, o tema economia, considerado pelo economista o mais grave no momento, ficou esquecido. ‘Ter um mês a mais para discutir programas seria uma ótima ideia, mas dificilmente haverá qualquer discussão de programas. O único programa elaborado, que tem uma consistência interna e tem propostas mais específicas, que é de longe o melhor programa, é o da Simone Tebet. Os demais são programas indicativos, claramente de candidatos que não finalizaram os seus planos’, criticou.
Para Arida, diante da eleição polarizada e o contexto pós-pandemia, os programas sociais são a grande peça de campanha dos candidatos, como a disputa entre Lula e Bolsonaro por quem concederá o maior valor do Auxílio Brasil. Ele destaca a dificuldade com a inflação em 2023 com as promessas, mas pondera possibilidades com o investimento estrangeiro.
‘Nós vamos ter uma política fiscal expansionista, vai ter uma gastança maior no ano que vem com certeza, o que complica o combate inflacionário. (…) Mas a competição entre países emergentes diminuiu. Ninguém mais investe na China, na Rússia, a Índia é complicada do ponto de vista da entrada de capitais estrangeiros. O Brasil se sobressai nesse quadro em termos comparativos. O único passível de receber investimento estrangeiros é o Brasil’, apontou.
Pérsio aposta que a transformação enérgica é um dos fatores determinantes para o investimento estrangeiro no país e, consequentemente, para impulsionar o desenvolvimento da economia. ‘Como o Brasil fez uma política ambiental ruim e tem um autocrata no poder, acabou se tornando um párea. Ele saiu do cenário de investidor estrangeiro. Gestores de ações, que antigamente as tinham no Brasil, hoje, não têm mais. Eles deixaram de acompanhar o Brasil. Uma boa agenda ambiental e de energia pode atrair o volume de capitais’, afirmou.
Sobre o teto de gastos, Arida defendeu a manutenção da política de controle das despesas. Ele admitiu a necessidade de se gastar mais diante do cenário pós-pandemia, mas cobrou efetividade dos gastos. Pérsio lembrou o termo “herança maldita” usado por Lula nas eleições de 2002.
‘Hoje, de fato, há uma herança maldita, no sentido de contas públicas desarrumadas, inflação alta. (…) Nós precisamos limitar essa licença para gastar. Algum aumento de teto haverá no ano que vem, sem dúvidas, mas é importante que seja pequeno e bem gasto. Usar o dinheiro para fazer políticas desenvolvimentistas à lá década de 1950 é o caminho errado. (…) O presidente em 2023 vai precisar discutir um novo teto de gastos’, apontou o economista, que criticou os subsídios do governo federal à gasolina.
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