A China forma mais graduados em áreas como Engenharia e Ciências do que EUA, Índia e Japão juntos
Estadão
Fiz dois anos de Matemática antes de optar pela Economia. Minha escolha inicial foi influenciada por duas pessoas: meu professor do ensino médio e, especialmente, minha mãe. Ela foi professora primária. Nos tempos em que havia muito analfabetismo entre os empregados, Lia cuidava para que ninguém deixasse a casa sem saber, ao menos, assinar seu nome e fazer as quatro operações.
Ouvir suas aulas em casa era uma delícia. Transmitia o amor em ensinar e despertava a curiosidade pela Matemática. Nada a deixava mais irritada que ouvir: “Mãe, vou levar zero, a professora não fez assim”. E ensinava: “Não existe solução única, chegar ao resultado certo é o que importa”. Para frustração de meu pai, engenheiro, acabei nas Ciências Sociais, na Economia e no Direito. Mas o amor pela Matemática nunca foi embora.
Lembrei dos meus pais por conta de uma polêmica que surgiu nas redes em torno da de uma simples equação; tinha fração e raiz quadrada, o que foi o suficiente para ser considerada difícil. A constatação que a maioria não sabia a resposta gerou intenso debate. Uns defendiam o reforço do ensino de Matemática, outros diziam que não precisaram resolver uma equação para conseguir emprego e houve até quem alegasse que o desafio era elitista.
Esta semana, a DeepSeek abalou as big techs americanas. Além de inteligência artificial, os chineses vão tomando a liderança em carros elétricos, satélites, robôs e painéis solares. Tudo produzido a custo bem menor do que dos concorrentes. O sucesso não veio por acaso. A China forma mais graduados em STEM – Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática – do que Índia, Estados Unidos e Japão juntos.
Os membros asiáticos da OCDE mostram uma proporção entre engenheiros e advogados bem maior que o resto do mundo. No Japão, por exemplo, é de quase quatro vezes, enquanto no Brasil é menor que um. A discrepância dos números mostra que o trabalho para recuperar nosso atraso nas áreas de exatas é longo e desafiador.
Tenho um palpite que o medo da Matemática é transmitido pelos próprios professores e pais, gerando um círculo vicioso. Nem todo mundo teve a mesma sorte que eu. A mudança tem de começar cedo, na primeira infância, despertando curiosidades e tornando o aprendizado lúdico.
Matemática está em todos os lugares, ao nosso redor diariamente, na tabela do Brasileirão, na filosofia, na música, no tempo e no espaço. É uma coisa linda.
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