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A construção da integridade

A maneira mais eficaz de perpetuar a corrupção e a pobreza é acreditar que somos um país peculiar, que a malandragem e a falta de ética são atributos inerentes aos brasileiros. Diante dessa suposta inexorabilidade só nos restaria aceitar com docilidade o destino, facilitando a vida dos corruptos e seus asseclas. Nada mais falso e pernicioso. A corrupção pode e precisa ser reduzida para gerar crescimento e justiça social. Corrupção e pobreza caminham juntas, e a própria existência da corrupção de forma que aprimoramento e políticas não estão sendo capazes de preservar o interesse público e nem promover o desenvolvimento econômico. É preciso repensá-las.

A corrupção relevante é a que faz interface com o poder público, definido como “o abuso do poder público para benefício privado”. A receita para reduzi-la é conhecida, já foi testada com sucesso em outros países. De maneira sintética, faça ponto de vista das regras do jogo econômico, vale afirmar que medida que promovam a eficiência da economia produzirá a corrupção e vice-versa.

Não há país eficiente sem um sistema tributário simples e transparente, que evite uma sonegação, como leis feitas sob medida e como contínuas contestações, fontes de corrupção. Não há como oferecer serviço público de qualidade se a máquina pública não tiver funcionários competentes, motivados, regras claras de avaliação de desempenho e função, com controles externos eficazes. Há desperdício e ineficiência sem regras transparentes nas concessões, nas licitações e nas obras públicas, favorecendo as empresas que subornam e nãos as mais eficientes.

Estamos presos na armadilha do baixo crescimento com corrupção elevada. Sua superação exige vontade política e pressão contínua da sociedade na busca do bem comum. O desafio é grande, são imensos os interesses para que nada mude, mas o fracasso coloca em risco a nossa democracia. Embora árdua, a construção da integridade é o mais precioso legado que podemos deixar para os nossos filhos e netos.

Fonte: O Globo

As opiniões aqui expressas são do autor e não refletem necessariamente as do CDPP, tampouco as dos demais associados.

Sobre o autor

Cristina Pinotti