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Itaú vê crise severa, mas temporária, e projeta queda de 0,7% do PIB no ano

Para Mario Mesquita, impacto sobre o PIB dependerá da extensão da paralisação de atividades

O Itaú Unibanco vê a crise provocada pelo novo coronavírus como “severa, mas temporária”. O banco avalia que, em um pior cenário, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro pode cair 1,6% neste ano, enquanto, no melhor, ainda haveria alta de 0,2%.

Para Mario Mesquita, economista-chefe do Itaú, o impacto sobre a atividade econômica dependerá da extensão da paralisação das atividades no país e o cenário pode se mostrar pior caso a crise resulte em quebradeira de empresas.

Nesta sexta-feira, o Itaú revisou sua projeção para o PIB brasileiro de 2020, de alta de 1,8% para queda de 0,7%. Para 2021, porém, o banco elevou sua projeção de crescimento, de 3% para 5,5%, refletindo a expectativa de que o PIB normalize-se após uma queda aguda, mas passageira.

 — Foto: Leo Pinheiro/Valor

A expectativa de recuperação rápida também se reflete nas estimativas do banco para o PIB nos trimestres. O Itaú projeta alta de 0,3% para o primeiro trimestre, em relação ao quarto trimestre com ajuste. Para o segundo, a expectativa é de queda forte, de 9,6% na margem, que seria seguida de alta de 11,9% no trimestre seguinte e novo crescimento de 0,6% nos últimos três meses do ano.

“Vemos essa crise como severa, mas temporária”, disse Mesquita em teleconferência com jornalistas para apresentação do novo cenário do banco.

Segundo ele, o custo para demitir e as medidas do governo para mitigar demissões devem reduzir a perda de empregos, e a expansão fiscal também deverá ter impacto sobre a economia. O que leva o economista a crer que o produto deve cair muito, mas depois voltar à trajetória anterior.

Mesmo com a queda esperada do PIB em 2020, o Itaú projeta a taxa de desemprego chegando ao fim deste ano em 11,4%, abaixo dos 11,6% de dezembro de 2019. Para 2021, o indicador continuaria em queda, fechando o ano em 11%.

Segundo Mesquita, essa perspectiva é baseada na visão de que Brasil e Estados Unidos, por sua estrutura de governança descentralizada e pela postura dos governos, devem enfrentar um “lockdown” equivalente a 75% do verificado na China, o que resultaria em uma queda de 30% da atividade no mês de paralisação mais intensa.

“Se for igual ao da China, a queda de atividade seria de 40%, e não de 30%, daí o PIB brasileiro cairia 1,6%”, projeta Mesquita. “Se for menos, ainda podemos ter uma alta de 0,2% do PIB no ano.”

Com relação à inflação, Mesquita avalia que a queda do preço do petróleo mais do que compensa a depreciação cambial. Por conta disso, o banco revisou sua projeção para o IPCA em 2020 de 3,3% para 2,9%.

Nesse cenário, o economista avalia que há espaço para o Banco Central (BC) cortar mais juros, embora não necessariamente vá haver novo corte já na próxima reunião.

O Itaú revisou sua projeção para a Selic ao fim do ano de 3,75% para 3,25%. Em 2021, o banco avalia que a autoridade monetária deve começar a retirar os estímulos injetados esse ano, o que levaria a taxa a 3,75% em dezembro.

Com relação à política fiscal, Mesquita afirma que a piora da projeção de déficit primário do banco – de -1,1% do PIB para -3,1% em 2020 – deve-se principalmente ao impacto da atividade sobre a perda de receitas. Para o câmbio, o economista avalia que, superada a crise, deve haver alguma apreciação da moeda brasileira, que levaria o dólar a fechar o ano em R$ 4,60, retornando a R$ 4,15 em 2021.

Mesquita alerta, porém, que todo esse cenário tem riscos. O primeiro deles seria uma contração mais intensa da atividade nos EUA. O segundo, o risco de a política de “lockdown” não funcionar.

O terceiro é o risco de os bancos centrais de países maduros não conseguirem prover a liquidez necessária. Por fim, o último risco é o de haver eventos de crédito, como falências corporativas, que transforme o choque em algo mais persistente. “Cabem iniciativas de política econômica para mitigar esse risco”, disse.

O economista avalia que as empresas no momento atual já se desalavancaram muito, reduzindo sua dívida externa, o que ajuda a mitigar o impacto da depreciação cambial. Além disso, não há mais uma exposição tão grande a derivativos cambiais como em 2008.

Mesquita se diz contrário a mudanças no teto de gastos: “O teto tem sido fundamental para garantir o ambiente de taxa de juros baixa. Se remove o teto, a trajetória de dívida vai ficar mais desafiadora e vai ser difícil manter a taxa de juros no nível atual”.

O economista lembrou ainda que, diferentemente de outros BCs do mundo, o brasileiro não pode utilizar mecanismos de “expansão quantitativa”, como a compra de títulos do Tesouro, pois isso é vedado pela Constituição.

Além disso, a emenda do teto de gastos já prevê que em casos de calamidade e epidemia o Congresso pode aprovar crédito extraordinário. “Não é nem desejável, nem necessário, mudar o teto a essa altura”, avalia Mesquita.

Por Thais Carrança

Fonte: Valor  Econômico

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